Sem atendimento eletivo, Fundhospar Cianorte adere protesto nacional

Da Redação

Em Cianorte, a Fundação Hospitalar do Paraná (Fundhospar), antiga Santa Casa, interrompeu os atendimentos das consultas eletivas do Sistema Único de Saúde (SUS) durante esta terça-feira, 19. O hospital aderiu à campanha “Chega de Silêncio”, coordenada pela Confederação das Misericórdias do Brasil (CMB). A medida visa alertar a comunidade e as autoridades, expondo a falta de recursos e a crise que assola o setor em todo o país.

Durante todo o dia, foram realizados apenas os serviços de urgência e emergência na Fundhospar. As consultas eletivas foram reprogramadas.

“Tudo está sendo reagendado. Todos os pacientes foram avisados. Ninguém vai sofrer prejuízo com isso”, garantiu o diretor da Fundhospar, Gilmar Célio.

REIVINDICAÇÕES

A defasagem dos valores pagos aos hospitais pela tabela SUS é um dos grandes motivos da mobilização. Segundo a federação, desde o início do plano real, em 1994, o reajuste, em média, foi de 93,77% na tabela. Enquanto isso, o Índice de Preços no Consumidor (INPC) foi reajustado em 636,07%, o salário-mínimo em 1.597,79% e o gás de cozinha em 2.415,94%.

Através de suas mídias sociais, a Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Estado do Paraná (Femipa) citou que “este descompasso brutal representa R$ 10,9 bilhões por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviço ao SUS, de todo o segmento”.

De acordo com Gilmar Célio, a defasagem da tabela SUS inviabiliza os serviços prestados pela fundação, que acaba tendo que recorrer a financiamentos.

“Essa defasagem não só assusta como inviabiliza. Quem custeia, na verdade, acaba sendo a fundação. Somos obrigados a fazer financiamentos para cobrir isso. Com isso, vamos ‘definhando’. São muitos anos sem reajuste na tabela. Estamos dentro de um país onde tudo sobe e como esta tabela está congelada há tantos anos? A ideia é sensibilizar os políticos, para que eles revejam isso, pois está sucateando cada vez mais a saúde”, explicou o diretor.

O cenário é preocupante. O setor teme não sobreviver aos impactos financeiros que serão causados caso não haja auxílio do governo e pede socorro.

“Sem dinheiro, não se trabalha. A saúde é uma questão de urgência. Você não pode pedir para o paciente esperar. É uma questão de prioridade. Bateu na nossa porta, temos que atender”, afirmou Célio.

A LUTA

Segundo a CMB, são necessários R$ 17,2 bilhões para honrar dívidas e manter a continuidade dos serviços. A crise que atinge o setor resultou no fechamento de 315 hospitais filantrópicos em todo o Brasil. O Governo Federal chegou a prometer aporte de R$ 2 bilhões em maio de 2021, o que não se efetivou até o momento.

Além disso, outra situação preocupa o setor. Tramita na Câmara Federal o Projeto de Lei 2564/20, que institui o piso salarial da enfermagem em R$ 4.750, a ser pago nacionalmente pelos serviços de saúde públicos e privados. A votação está prevista para os próximos dias.

Sobre a PL, o diretor da Fundhospar garante que o aumento salarial dos profissionais da enfermagem é justo e incontestável. No entanto, seria mais um compromisso dentro do orçamento.

“Não somos contra (o aumento dos salários dos enfermeiros), muito pelo contrário. Acreditamos que, realmente, o salário dos enfermeiros é pequeno em função do que eles fazem. Mas, de onde sairá o dinheiro para pagar esses salários? Nós vamos ter que pagar”, explicou Gilmar Célio.

No Brasil, são 1.824 hospitais filantrópicos, que dispõem de 169 mil leitos hospitalares, 26 mil leitos de UTI, e atendem a mais de 50% da média complexidade do SUS e 70% da alta complexidade.