No Paraná, Covid já matou mais crianças que outras 14 doenças em dez anos

Em pouco menos de dois anos e meio de pandemia, a Covid-19 já matou mais crianças com até cinco anos de idade do que a soma todas as mortes nessa faixa etária ao longo de 10 anos por doenças que são preveníveis por vacina.

De acordo com os informes epidemiológicos divulgados pela Secretaria de Saúde do Paraná (Sesa-PR), desde o início da emergência sanitária provocada pelo novo coronavírus até ontem (um período de aproximadamente dois anos e quatro meses) a Covid-19 provocou a morte de 49 crianças pequenas no Paraná. O ano com mais falecimentos foi 2021 (com 30 registros), enquanto outros 18 óbitos foram divulgados em 2022.

Por outro lado, dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da saúde, revelam que entre 2011 e 2020 as doenças que compõem a Lista Brasileira de Mortes Evitáveis para menores de 5 anos provocaram um total de 45 óbitos no estado, sendo que o ano com mais mortes no período analisado foi 2014, com 10 falecimentos.

Formulada por especialistas de diversas áreas ligadas à saúde infantil e coordenada pelo Ministério da Saúde, a lista inclui 14 doenças com desfecho fatal prevenível por imunização: neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) liberou o uso emergencial da Coronavac, do Instituto Butantan, para as crianças de três a cinco anos. Na semana passada, inclusive, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Curitiba começou a aplicar a primeira dose da vacina contra a Covid em crianças de 3 e 4 anos.

Entretanto, as crianças menores, que têm entre seis meses e dois anos, seguem descobertas, embora possuam o dobro de risco de morte em relação às primeiras.

Segundo dados levantados pelo Observatório de Saúde na Infância – Observa Infância (Fiocruz/Unifase), entre 2012 e 2021 o Brasil registrou 144 óbitos de crianças de 6 meses a 3 anos como resultado de doenças da Lista Brasileira de Mortes Evitáveis, apesar de algumas delas não terem causado nenhuma morte infantil (caso da poliomielite, erradicada desde 1994 no país). Já a Covid-19, em um período de dois anos (2020 e 2021), matou 539 crianças nessa faixa etária.

“Ainda sem perspectiva de vacinação no Brasil, crianças de 6 meses a 3 anos representam cerca de duas em cada cinco menores de 5 anos que morreram com Covid-19 nos dois primeiros anos da pandemia”, apontam os pesquisadores Patricia Boccolini e Cristiano Boccolini, responsáveis pela análise.

Atualmente, pelo menos 13 países no mundo já vacinam crianças menores de cinco anos contra a Covid-19, sendo que nações como Estados Unidos e Israel já aprovaram a aplicação de imunizantes a partir dos seis meses de idade. No Brasil, a Pfizer e a Zodiac (representante da Moderna no país) se preparam para solicitar em breve autorização à Anvisa para uso da vacina a partir dos seis meses.

Coqueluche e meningite lideram na lista de mortes evitáveis por vacina
Entre as doenças que compõem a Lista Brasileira de Mortes Evitáveis para menores de 5 anos, aquela que provocou o maior número de óbitos no Paraná ao longo de uma década (entre 2011 e 2020) foi a coqueluche, uma doença infecciosa aguda e transmissível, que compromete o aparelho respiratório (traquéia e brônquios). Dos 45 óbitos registrados no estado em 10 anos, a coqueluche foi responsável por 32 (71% do total), sendo que a maior parte dos registros (30) se concentrou entre os anos de 2011 e 2015. Em seguida aparece a meningite bacteriana (que é uma inflamação das meninges, que são as membranas que envolvem o cérebro), com seis óbitos (13%).

No caso da coqueluche, a transmissão acontece, principalmente, pelo contato direto da pessoa doente com uma pessoa suscetível, não vacinada, através de gotículas de saliva expelidas por tosse, espirro ou ao falar. Apenas os indivíduos que já tenham adquirido a doença ou recebido a vacina DTP (mínimo de três doses) não correm o risco de adquiri-la. Graças à vacinação, no entanto, a ocorrência de casos de coqueluche no Brasil (que já chegou a cerca de 36 mil casos notificados por ano entre 1981 e 1991) vem sendo reduzida.

Mortes por causas evitáveis* entre crianças de 0 a 5 anos no Paraná
Total: 45
2020: 2
2019: 3
2018: 3
2017: 2
2016: 1
2015: 5
2014: 10
2013: 8
2012: 8
2011: 3
Fonte: Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde

Mortes por Covid-19 entre crianças de 0 a 5 anos no Paraná
Total: 49
2022: 18
2021: 30
2020: 1
Fonte: Informes Epidemiológicos da Secretaria de Saúde do Paraná (Sesa-PR)
*Lista Brasileira de Mortes Evitáveis que inclui as seguintes doenças: neurotuberculose, tuberculose miliar, tétano neonatal, tétano, difteria, coqueluche, poliomielite, sarampo, rubéola, hepatite B, caxumba, rubéola congênita, hepatite viral congênita e meningite meningocócica do tipo B.