A Esplanada mudou de nome

Quando Cianorte nem tinha completado dez anos de fundação, a Esplanada era o centro de diversão dos finais de semana. Um enorme espaço foi deixado aberto pela colonizadora e deixando livre a estrada de ferro que pretendia chegar até Guaíra, e que nunca chegou…

Um capinzal alto fazia moitas por todos os lugares, até que devagar foram sendo construídas as primeiras casas da Zona Sete. A Esplanada servia de atalho para chegar até o centro da cidade e um caminho na terra foi marcado por entre o capinzal, de passadas constantes dos primeiros moradores. O futebol era um divertimento que a todos agradavam, exceto às mulheres. Então, nasceu o primeiro time de futebol fundado pelos funcionários da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná em cima do capim, que brotava da areia branca e foi também o berço do time do C.A.F.E., a primeira equipe profissional de futebol e que já bons momentos neste esporte. E em dias de jogos, uma pequena multidão de curiosos ficavam ao redor do espaço do campo e se divertiam, em tardes de sábados e domingos.

Em dias de sol e de vento, as crianças, hoje idosos de mais de setenta anos, brincavam alegremente, com sua família, tios, irmãos ajudando os pequenos a soltar “papagaio”, pipas, de caudas grandes e coloridas. Para chegar à Esplanada atravessava-se um resto de mata que se mantinha em pé ainda na Avenida América e Avenida Maranhão. Quanto mais vento, melhor se tornava a brincadeira e lá se passavam horas alegres de risos, corridas, onde a distração era inocente e pura. De vez em vez aparecia algum animalzinho selvagem, que saía de dentro da mata ao redor, buscando comida e logo desapareciam por entre as árvores. Até que um dia o trem chegou, veio o progresso e os vagões enchiam-se de cargas de sacas de café e outros cereais recém-colhidos das chácaras próximas e dos sítios da redondeza. Os vagões faziam o caminho de vinda trazendo mercadorias para os comerciantes e voltavam carregados de produtos da roça. O município crescia a olhos vistos e era uma promessa de progresso para os recém-chegados cheios de esperança. Às vezes levavam também madeira proveniente da derrubada da mata. Derrubar uma árvore, abrir espaço na mata, alargar a cidade era sinônimo de riqueza, conceito tão diferente, hoje, passados setenta anos. Todos os dias chegavam caminhões carregando mudanças, depois de atravessar o rio Ivaí de balsa, enquanto a ponte não ficava pronta. Chegar até Cianorte, durante a estação chuvosa era um grande desafio, eis que o barro era o pior empecilho para seguir viagem, e muitas vezes levavam-se dias para chegar até Cianorte.

E a Esplanada depois da última partida do trem emudeceu e silenciou; ninguém mais ia para aquele recanto jogar futebol e as pipas desapareceram, tornou-se um lugar ermo, sem atração. Os anos se passaram e toda aquela área que fora cedida, com cláusula de reversão
para a estrada de ferro, veio de volta para o patrimônio da Companhia, uma vez que nunca mais o trem voltou. Neste ano que a cidade vai completar 70 anos de fundação a Esplanada acorda com um novo nome dado pelo costume popular: o Novo Centro! A área foi redimensionada, com ruas asfaltadas e devagar novas construções estão surgindo dentro do capinzal antes ocupado pelos primeiros jogadores de futebol e pelas crianças que empunhavam felizes, suas pipas no ar.

O progresso não tem coração e não tem memória. Ele é cruel. Arranca de nossa alma nossas lembranças mais simples, mais inocentes, mais ingênuas e nos coloca dentro da estrada da saudade que nunca mais fará o mesmo percurso!

Izaura Varella
De vez em quando saudosista!