A cada ano, uma área maior que Piraquara queima no Paraná

Por Bem Paraná

Um levantamento inédito, feito pelo Projeto MapBiomas a partir da análise de imagens de satélite entre 1985 e 2020, mostra o impacto do fogo sobre o território paranaense. Em cada um desses 36 anos analisados, o Paraná queimou uma área maior que a de Piraquara, município localizado na Região Metropolitana de Curitiba: foram 297,22 quilômetros quadrados queimados anualmente, enquanto o município metropolitano em comparação tem 227 km².

Ainda segundo os dados do MapBiomas, que podem ser conferidos através do link: https://plataforma.brasil.mapbiomas.org/, desde 1985 uma área total de 10,7 mil km² ardeu no Paraná. A boa notícia, por outro lado, é que a área queimada tem apresentado tendência de redução nos últimos anos – em 2020, por exemplo, foram 145,7 km², 28,35% a menos que os 203,35 km² do ano anterior.

Com relação ao uso e cobertura da área queimada, verifica-se ainda que os terrenos mais afetados nos 36 anos analisados eram destinados à pastagem e agricultura, áreas de formação florestal ou campos alagados e áreas pantanosas, nessa ordem. Além disso, os grandes picos de área queimada costumam ocorrer principalmente em anos impactados por eventos de seca extrema e também a estação mais seca, entre julho e outubro, concentra a maior parte das queimadas e incêndios.

Por isso, a situação atual do estado demanda cuidado e exige alerta constante. Desde 2019 o Paraná enfrenta uma estiagem severa que, aliada ao clima seco característico da estação e à vegetação ressecada, pode favorecer a ocorrência de incêndios florestais.

Não à toa, os casos, que chegaram a reduzir nos primeiros quatro meses do ano, voltaram com tudo especialmente após a chegada do inverno. Em julho, por exemplo, foram 1.505 focos de queimadas no estado, conforme o Corpo de Bombeiros, 125% a mais que no mesmo mês do ano passado.

Já em agosto, a corporação registrou, até o dia 23, um total de 2.483 focos de incêndio em vegetação em todo o estado. Isso equivale a 29,6% das 8.393 ocorrências no ano, sendo que em 2021 o número de registros já é bastante superior ao verificado no mesmo período do ano anterior, quando haviam 7.082 ocorrências desse tipo.

Por isso, é importante que o cidadão ajude e contate imediatamente a Central de Operações, via 193, caso presencie alguma situação de incêndio ambiental, já que o fogo descontrolado pode se alastrar rapidamente, causando danos irreversíveis à fauna e à flora.. Ao longo do último final de semana e ainda nesta segunda-feira, inclusive, o município de São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), registrou diversos focos de incêndio.

Ação humana: tragédias poderiam ser evitadas

Além das condições climáticas ou naturais, uma grande parcela dos incêndios é causada pela ação humana, com as queimadas irregulares de vegetação e de lixo, bitucas de cigarro lançadas no mato, fogueiras e balões soltos irregularmente.

No Paraná, a infração administrativa e a multa para os responsáveis por provocar um incêndio ambiental variam de acordo com o tamanho da área atingida. O valor mínimo é de R$ 5 mil, mas pode chegar a R$ 50 milhões, dependendo de quantos hectares foram afetados pelo fogo e os danos causados na fauna e na flora da região.

A soltura de balões também é proibida no Estado, já que a queda do artefato pode causar acidentes, com incêndios que podem atingir não somente a vegetação, mas também alguma residência. Nesse caso, o crime ambiental é punível com pena de detenção de um a três anos, multa ou ambas as penas cumulativamente.

Um quinto do território brasileiro já ardeu

O levantamento do Projeto MapBiomas revela ainda que, no território nacional, o Brasil queima anualmente uma área maior que a Inglaterra – 150.957 km², ou 1,8% do país. Além disso, as cicatrizes do fogo são assustadoras, com praticamente um quinto do território nacional já tendo queimado em algum momento: 1.672.142 km², ou 19,6% do Brasil, sendo que 65% do total da área queimada foi de vegetação nativa.

Entre os cinco biomas brasileiros, o mais atingido é o Pantanal: entre 1985 e 2020, 57% do território foi queimado pelo menos uma vez. A vegetação campestre é a mais afetada no bioma, durante os períodos úmidos as plantas acumulam biomassa e no período seco, a vegetação seca vira combustível para o fogo. “Essas características do bioma, associadas a eventos climáticos de seca e fortes ventos, torna o fogo um problema a ser controlado.”, alerta o coordenador do MapBiomas Pantanal, Eduardo Reis Rosa.