Professor Domingos: “Cianorte é governada para meia dúzia”

O professor Domingos Abel Gonçalves da Cruz Júnior (PT) conhece bem a cidade. Nascido e criado em Cianorte, ele conhece a realidade da vida mais dura da população que mora na periferia da Capital do Vestuário. Filhos de um vendedor e de uma auxiliar de serviços gerais, ele começou a trabalhar bem cedo, primeiro embalando sorvetes com a mãe, depois como vendedor de sorvetes, ainda adolescente. Estudou, se formou e se descobriu professor. Hoje é um dos dirigentes da APP-Sindicato em Cianorte e presidente do Diretório Municipal do PT na cidade.

Segundo ele, a experiência como professor lhe deu bagagem para colocar seu nome à prova e disputar a prefeitura pelos Partido dos Trabalhadores conhecendo bem os problemas da cidade. “Cianorte é uma cidade governada para meia dúzia e administrada pela e para a elite”, resume.

O petista esteve na manhã de quinta-feira, 8, na redação da TRIBUNA. Acompanhado do seu candidato a vice-prefeito, Cícero Augusto – também do PT -, ele abriu a série de entrevistas que o jornal está fazendo com os candidatos a prefeito de Cianorte. Em quase duas horas de conversa ele falou um pouco da sua vida, da forma como faz política e da maneira como pretende administrar uma cidade com 86 mil habitantes e um orçamento próximo de R$ 300 milhões.

Durante a sabatina, ele revelou que a sua pauta é a que está mais voltada para o social, com uma visão muito atenta ao que acontece na periferia da cidade, com especial atenção à falta de insfraestrutura nos bairros e a dificuldade que jovens e crianças dessas áreas têm em acessar ou ser atendido pelos serviços públicos.

TRIBUNA – O senhor acha que está preparado para administra Cianorte?

Professor Domingos: Sim. Sinto-me totalmente preparado. Porque eu tenho a capacidade técnica da área administrativa. Que foi oportunizada pela cursos de Gestão Empresarial que fiz. Fiz cursos de gestão que me capacitaram e o fato de poder fazer parte da gestão direta da APP-Sindicato, com mais de 100 mil filiados, se for contar os aposentados são quase 200 mil pessoas. Isso tudo me capacita. E vou além. Ninguém faz nada sozinho. Então tenho certeza que o que construirmos coletivamente é o que Cianorte precisa. Eu vou governar pensando junto com as pessoas. Fazendo de fato um orçamento participativo, uma gestão democrática para atender os anseios da população.

TRIBUNA – O senhor fez uma avaliação dos principais problemas cidade. E se eleito, sabe como resolvê-los?

Professor Domingos: Hoje, quando a gente faz essa avaliação, é preciso fazer uma análise de conjuntura ampla. Porque quando as pessoas pensam a cidade há o hábito de imaginar apenas a gestão municipal. Mas é preciso levar em conta tudo o que acontece dentro dos governo federal e estadual. A gente vive um processo de crise econômica que antecede à pandemia. Então quando a gente pensa quais os problemas que a gente tem nós colocamos em primeiro lugar o cuidado com a vida humana. Precisamos cuidar das pessoas. O caminho é promover uma gestão que faça o mapeamento das demandas sociais que permeiam o nosso município. O caminho é criar fazer uma Secretaria de Assistência Social que seja proponente. Estamos andando pelos bairros e vendo o desespero das pessoas, tanto com insegurança alimentar como com a falta de emprego. Então é preciso tratar dessas pessoas que vivem em dificuldade social. E quem está sofrendo mais é a população mais pobre. A população dos bairros afastados. A população que não tem condição de se manter.

TRIBUNA – Ainda é possível salvar a industrial da confecção em Cianorte?

Professor Domingos: A indústria da confecção está vivendo um período de desaquecimento por conta da economia. O que a gente precisa fazer é reorganizar, reestruturar e trabalhar investimento para que, quando a economia voltar a crescer, ela volte a andar e gerar emprego e renda.

TRIBUNA – Você acha que ela pode voltar a ser o que era antes?

Professor Domingos: Eu não só acredito como tenho certeza que isso vai acontecer. O que acabou acontecendo foi que o nosso polo de confecção migrou para onde tinha mais infraestrutura. Os governos anteriores não perceberam esse processo de transição. O empresário precisa de infraestrutura, de condição de escoamento de produção, de mão de obra qualificada. E Maringá começou a se fortalecer, se auto intitulou Capital da Moda e foi absorvendo as empresas que estavam instaladas aqui, mas que por falta de infraestrutura migraram para lá. O que a gente vai ter que fazer é retomar isso. É garantir a infraestrutura necessária para que o empresário chegue e se desenvolva da melhor maneira possível.

TRIBUNA – Na sua opinião, os bairros periféricos não recebem a mesma atenção que os bairros de classe média?

Professor Domingos: Claro. E isso fica mais evidente na Avenida José Silveira, que já foi inaugurada há mais de um ano e ainda não recebeu iluminação pública. Isso é um descaso com essa população. Por que isso aconteceu? Porque há uma divisão de classes evidente na cidade.

TRIBUNA – Quase R$ 300 milhões são suficientes para resolver os problemas de Cianorte?

Professor Domingos: Dentro da nossa avaliação é suficiente, mas esse orçamento é mal gerido, mal planejado, ele é mal executado. Quando a gente faz uma análise superficial desses números se percebe isso. O gabinete do prefeito tem R$ 4 milhões à sua disposição, enquanto que toda Secretaria de Agricultura tem apenas R$ 1,8 milhão para desenvolver todo um município. O investimento na área de cultura é de R$ 900 mil, dos quais, R$ 600 mil são destinados para a realização de uma festa, onde a maior parte dos recursos são destinados à contratação de artistas renomados. Sobram R$ 300 mil para se promover a cultura. No esporte são outros R$ 3 milhões, mas pouco mais de R$ 700 mil são destinados ao esporte amador. Nós temos um campeonato de futebol organizado pela prefeitura onde os times para participar precisam pagar uma taxa de inscrição.

Outras propostas

– Reestruturar a administração através de ideias inovadoras aproveitando ao máximo a estrutura do município como ferramentas de inclusão;

– Criação (construção ou reestruturação) de uma escola em tempo integral em Cianorte que beneficie crianças em vulnerabilidade social;

– Intensificação da regionalização da saúde através dos governos federal e estadual e com o Consórcio Intermunicipal de Saúde do centro Noroeste do Paraná (Ciscenop);

– Construção de novos Centros de Educação Infantil e reestruturação das atuais unidades;

– Fazer auditoria dos gastos públicos nos últimos cinco anos para melhor adequar as necessidades do município ao orçamento;

– Incentivar a criação de curso de Medicina no campus regional da Universidade Estadual de Maringá (UEM);

– Promover uma ampla reforma administrativa na prefeitura e acabar com 30% dos cargos em comissão;

– Investir recursos na contratação, capacitação, treinamento e proteção dos servidores da área de saúde para agilizar e melhorar o atendimento da população;

– Criação do conta-turno transversal na rede municipal de ensino, através de projetos culturais e esportivos;

– Ampliação do atendimento básico de saúde através das equipes do Programa Saúde da Família (PSF);

– Implementação de inglês, artes e iniciação tecnológica dentro das escolas municipais.

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