Deputado questiona repasses milionários a candidatos com baixa votação no Paraná

Ivan Santos e José Marcos Lopes/ Bem Paraná

O deputado estadual Plauto Miró Guimarães (União Brasil) levantou suspeitas sobre repasses milionários de partidos a candidatos à Câmara Federal com baixa votação no primeiro turno das eleições no Paraná. Plauto criticou os critérios para os repasses de recursos dos fundos eleitoral e partidário e afirmou ver indícios de que candidatos “laranja” a deputado federal teriam sido utilizados pelas siglas para destinar dinheiro para a campanha de deputados estaduais.

As declarações foram feitas em discurso na tribuna da Assembleia Legislativa no último dia 13. “O partido ao qual eu faço parte não estava agindo corretamente com os seus candidatos a deputado federal e estadual. Estava-se privilegiando poucos candidatos que faziam a sua campanha. A grande maioria não estava sendo atendido pela sigla”, afirmou Plauto, que está no sétimo mandato e não se reelegeu.

O parlamentar questionou ainda o destino real dos recursos. Segundo ele, escritórios de advocacia “estavam sendo contratados por valores exorbitantes” por esses candidatos supostamente privilegiados pelos partidos. “Nós tivemos produtoras de televisão que cobravam valores muito mais altos que o mercado cobrava. Nós tivemos escritórios de contabilidade que receberam valores altos, muito maior do que o cobrado pelo mercado”, disse.

“Eu quero saber aquela fortuna que foi dada para deputadas federais que eu acho que é (sic) ‘laranja’. Pegaram praticamente R$ 1 milhão para fazer 2 mil votos. Para onde foi essa grana. É isso que eu quero saber”, disse.

Plauto afirmou que pretende rastrear a destinação do dinheiro. “Eu rastreei e rastreando o dinheiro nós vamos saber para onde ele foi. Eu fui atrás de deputados federais ‘laranjas’ que o partido lançou”, explicou.
O deputado citou entre os casos que lhe chamaram a atenção o da candidata a deputada federal Débora Carvalho (União Brasil), que recebeu R$ 913.020,59 do fundo eleitoral e terminou a eleição com 2.251 votos.

“Teve outra candidata a deputada federal, Ângela Mendonça, que recebeu R$ 700 mil”, disse, referindo-se a outra candidata do União Brasil que fez 4.325 votos. “A Major Letícia recebeu R$ 860 mil para fazer um pouco mais de 3 mil votos”, apontou, sobre a candidata de seu partido que recebeu R$ 867.006,03 e teve 3.780 votos.

Investigação – O deputado disse que pretende aguardar a prestação de contas final para fazer um levantamento completo e levar as denúncias ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, para que elas sejam investigadas. Os valores citados por Plauto se referem à primeira prestação de contas parcial relativa ao período de 16 de agosto a 8 de setembro que os candidatos tiveram que entregar ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE/PR) até 13 de setembro. A prestação de contas final dos candidatos a deputado deve ser entregue até 1º de novembro.

“Vou terminar esses levantamentos. Porque essas senhoras não prestaram contas ainda. Agora, no fecho da contabilidade, nós vamos ver para onde foi esse dinheiro. Saiu da conta delas candidatas para quem? Para o escritório de contabilidade? Para o escritório de advocacia. Dizem as más línguas que houve troca. Muita coisa acabou voltando”, afirmou.

“Dizem as más línguas que teve desvio. Não posso provar. Mas depois que terminar eu vou encaminhar para o Ministério Público Federal. Vou levar para o ministro Alexandre de Moraes. Vou fazer questão de levar o que virou a podridão do fundo partidário do partido União, nas mãos desse ministro do Supremo. Espero que eles façam justiça e punam aqueles que utilizaram indevidamente esse dinheiro”, cobrou.
A reportagem do Bem Paraná procurou o deputado Plauto Miró, mas através de sua assessoria, ele afirmou que não pretendia se manifestar.

Sobras devem ser devolvidas ao Tesouro Nacional
Levantamento feito pelo Bem Paraná com base nas prestações de contas parciais apresentadas à Justiça Eleitoral identificou um grupo de pelo menos 21 candidatos à Câmara Federal pelo Estado que receberam mais de R$ 200 mil cada um para a campanha e terminaram a corrida eleitoral com menos de 4 mil votos. Juntos eles receberam quase R$ 8 milhões em recursos dos fundos Eleitoral e Partidário.

Os valores finais devem mudar, já que a prestação de contas definitiva deve ser apresentada até 1º de novembro pelos candidatos que concorreram no primeiro turno. Os recursos públicos utilizados em campanhas têm duas origens, o Fundo Partidário e o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC). As sobras do Fundo Partidário são devolvidas aos partidos; já as sobras do FEFC devem ser devolvidas diretamente ao Tesouro Nacional. A lei determina que a distribuição dos recursos entre os candidatos fica a critério da direção do partido.

Um dos casos que chamam a atenção é o da candidata a deputada federal Roseli Terapeuta (PP), que recebeu R$ 510 mil para os primeiros 24 dias de campanha e saiu das urnas com 1.105 votos. Deste valor, R$ 310 mil, ou 60,7%, vieram do FEFC. Na prestação parcial de contas, ela declarou ter contratado serviços de campanha no valor de R$ 250.504.

Adriana Araújo (PP) recebeu R$ 380.255,02 para sua campanha a deputada federal, mas fez apenas 489 votos. Deste total, 95,2%, ou R$ 200 mil, vieram do FEFC. Na prestação parcial de contas, ela declarou ter contratado serviços no valor de R$ 182.012,42.

A reportagem do Bem Paraná entrou em contato com Adriana Araújo, mas ela não comentou o assunto. A reportagem também tentou contato com Roseli Terapeuta, mas a candidata não deu retorno às mensagens. Procurado, o PP não se manifestou sobre as candidaturas e os repasses. O presidente do União Brasil no Paraná, deputado federal Felipe Francischini, não se manifestou sobre as afirmações de Plauto Miró. Por meio de sua assessoria, Francischini disse que Plauto deveria ser procurado para explicar a denúncia.