Receita para ser feliz

Para ser feliz nem precisamos tanto de dinheiro; é lógico que o dinheiro ajuda, trocando a caminhada pelo carro, o carro por avião… Mas não é “conditio sine qua non”, não é indispensável, nem é essencial. Andando a pé também se pode ser feliz, sem contar o benefício para o corpo que trás uma longa caminhada. Mas a caminhada da vida é longa demais para desfrutar tão somente da felicidade. Há que se ter momentos de dor, há que se ter decepções, há que se ter desencantos, há que se ter rejeição, há que se ter perdas. A alma se engrandece com os conflitos e tristezas e cria um invólucro de proteção e maturidade à sua volta. Assim recapados,

podemos enfrentar com mais serenidade os obstáculos à nossa volta. Não conheço nenhuma pessoa que diz ser feliz que não tenha se deparado com situações constrangedoras, dolorosas, momentos desconfortáveis que pareciam eternos, embora temporários. A felicidade, creio, decorre da experiência que adquirimos diante de situações mal resolvidas. A pessoa equilibrada, diante do relógio da vida cujo ponteiro aponta para trás, é capaz do enfrentamento. Enfrentar o desencanto é adquirir coragem para esquecer momentos desajustados que não combinam com o querer viver! Viver feliz é uma condição que impomos a nós mesmos a partir das atitudes que tomamos diante da jornada da vida.

Para ser feliz, sobretudo, é preciso ser inteligente o suficiente para descartar o que não nos interessa, é não dar importância aos fuxicos e fofocas, é não querer saber qual a opinião dos outros a respeito de nós mesmos. Somos o que somos e podemos ser melhores, se não ficarmos escutando as más línguas, cheias de veneno, invejosas, cujo fel não se permite saborear os tônicos da vida.

Não há sentimento pior do que a inveja, mesmo porque a inveja dura sempre mais tempo do que a felicidade daquele que invejamos. E se somos invejados é sempre muito melhor do que ser lastimado. Na inveja sempre os invejosos desejam lá no íntimo ocupar o nosso lugar e sermos como somos. Só tenho inveja daqueles que realizam seus sonhos, porque são objetivos e correm com a perspectiva de realizá-los; esta é uma inveja branca, sadia e oportuna.

Para ser feliz é preciso ter história e construir sua história pessoal, não necessariamente, cheia de glórias, mas também com derrotas. Não podemos passar em vão por este caminho, sem construir a nossa biografia humana, com seus feitos e progressos, com seus percalços e frustrações. Precisamos nos individuar, ser nós mesmos. Nenhuma pessoa vive em vão e na construção pessoal da nossa biografia, podemos deixar correr nossas lágrimas e após elas jorrarem ainda plantar a felicidade. A história se faz de momentos, um se sobrepondo ao outro e cabe a nós construtores, tornar nossa biografia melhor de ser lida e quiçá imitada.

Para ser feliz, finalmente, é necessário ter companhia. Não aquela companhia que nos constrange, mas aquela que nos seduz. A companhia que não mata a liberdade de ser um só, estando acompanhado, porém. Na companhia é mister, conservar a liberdade de estar a só consigo mesmo, quando a solidão nos faz bem, e estar acompanhado quando a pluralidade nos faz feliz. E a própria Bíblia nos dá a lição do Gênesis: “Não é bom que homem esteja só!”.

 

Izaura Aparecida Tomaroli Varella