Primeira Epístola aos Tessalonicenses

Mario Eugenio Saturno

Vimos no artigo “A Cidade Tessalônica” que o anúncio do Evangelho por Paulo e Silas criou grande tumulto na cidade a ponto de terem que sair da cidade. E, apesar disso, vários tessalonicenses (At 17,4) aderiram, nascendo aí uma comunidade cristã e corajosa também.

A cidade era uma metrópole com porto movimentado, população diversificada por culturas, línguas, deuses, folclore, superstições e tradições. A língua mais usada era o grego, mas havia muitas outras, além dos dialetos. Havia ali hospedarias, saunas, teatros, praças públicas, sanitários e, inclusive, prostituição. E no campo havia rebanhos, cultivos de oliva, uva e outras frutas. As terras estão nas mãos dos latifundiários, mas no mar, muitos pescadores tiravam das águas o sustento que vai alimentar tantas outras pessoas.

Em meados dos anos 50 d.C., Paulo e Silas seguiram para a Bereia, Atenas e Corinto, de onde ele escreve a Primeira Carta aos Tessalonissenses entre o fim do ano de 50 ao início de 51.

Essa carta é marcada pela alegria e, acima de tudo, pela ação de graças, apesar dos conflitos e temores, já que os Tessalonicenses passaram pelos mesmos conflitos enfrentados pelos autores da carta.

Paulo, Silas (Silvano) e Timóteo tinham motivos para temer, mas a atitude deles é de otimismo, alegria e agradecimento a Deus. As dificuldades enfrentadas não afetaram suas vidas, pelo contrário, eles acreditam que é justamente aí que se manifesta a graça e a paz de Deus (1 Ts 1,1).

Os tessalonicenses testemunharam a integridade exterior de Paulo: “Não estávamos à procura de elogios dos homens, seja de vocês, seja de outros” (1 Ts 2,6). A integridade interior, que não pode ser detectada pela comunidade, mas é comprovada por Deus: “Nós não fomos levados por motivos interesseiros: Deus é testemunha” (1 Ts 2,5). A esse respeito, ele conclui: “Vocês são testemunhas, e o próprio Deus também, de como foi santo, justo e irrepreensível o nosso comportamento em relação a vocês que acreditaram” (1 Ts 2,10).

As grandes cidades daquele tempo estavam cheias de pregadores ambulantes que faziam disso seu ganha-pão (1 Ts 2,9). Para conseguir seus objetivos, procuravam camuflar muito bem os interesses, procurando adular os ouvintes. Já Paulo e Silas traziam, por ocasião da fundação da comunidade, as marcas da flagelação sofrida em Filipos. Além disso, Paulo trabalhava de dia e com isso ganhava seu sustento.

De fato, logo depois, seus adversários tentaram destruir por completo as sementes do Evangelho lançadas nessa comunidade. Paulo previa isso. Por essa razão é que não tem sossego. Ele está em Atenas, mas o coração e o espírito ainda estão em Tessalônica.

Timóteo voltou de lá com ótimas notícias: a comunidade está firme, enfrentou a perseguição e venceu, está com saudade do seu fundador, e tantas outras notícias que provocam a ação de graças da equipe. Paulo tem a impressão de estar ressuscitando:

“Agora já nos sentimos reanimados, pois sabemos que vocês estão firmes no Senhor” (1Ts 3,6-8). Ele põe em segundo plano os problemas e inquietações, pois é hora de dar graças a Deus e de escrever à comunidade.

Mario Eugenio Saturno (cientecfan.blogspot. com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.