ESG: Qual o tamanho do “S”?

 

Alfredo dos Santos Junior (*)

O conceito ESG – em inglês Ambiental, Social e Governança – é algo que veio para ficar e ocupar a atenção das empresas.

Muito tem sido escrito sobre o assunto e exemplos de iniciativas empresariais são apresentados como resposta a esta “nova” demanda. Mas, chama a atenção certa desigualdade: enquanto práticas ligadas à governança, e ações voltadas à preservação do meio ambiente, têm merecido maior atenção, a dimensão social ainda recebe um tratamento tímido. Afinal, qual o tamanho do “S” no ESG?

O campo social para as empresas tem duas dimensões: uma interna e outra externa.

Quando lemos sobre as práticas adotadas pelas empresas fica claro que a atenção se concentra na dimensão interna, com políticas voltadas para saúde do funcionário, diversidade e inclusão. Ora, é preciso reconhecer que estas práticas não vão muito além do que conhecemos como “gestão de pessoas”.

A questão mais aguda se dá quando olhamos para o lado externo. O que se vê frequentemente, são iniciativas voltadas à privacidade do cliente, segurança de dados, segurança do produto, etc. Estas são questões relevantes, mas será que não está faltando algo mais efetivo no campo das relações com a comunidade?

Muito se tem falado sobre a responsabilidade que as empresas têm de mitigar os efeitos das externalidades que suas atividades provocam junto às comunidades. Tal necessidade tem levado empresas a desenvolver estratégias de responsabilidade social que têm sido relevantes não só para melhorar as condições das comunidades do entorno, mas, também, para fortalecer o relacionamento da empresa com elas.

Há, aí, um potencial enorme de ação para fortalecer o “S” do ESG. Naturalmente, é preciso ser criativo e ousado para fortalecer tais iniciativas. Afinal, o que pode ser feito para tornar mais forte o pilar social do ESG?

Não podemos, nos limites deste artigo, fazer uma avaliação minuciosa do que pode ser feito. Mas, gostaríamos de destacar alguns elementos que devem ser considerados quanto à abordagem que uma empresa pode adotar para trabalhar junto a uma comunidade.

A iniciativa de aproximação com a comunidade deve partir da empresa. Para que esta aproximação seja exitosa, é importante:

· Toda comunidade tem uma estrutura, ainda que não-formal, de lideranças. É essencial que a empresa conheça essas lideranças e prepare seus representantes para dialogarem com elas.

· Toda comunidade tem um histórico de relacionamento com o poder público. É importante que a empresa conheça o grau de relacionamento que a comunidade mantém junto a este stakeholder. O ideal é que haja sintonia entre as ações dos três setores: governo, empresas e sociedade.

· É preciso compreender que comunidade significa diversidade, algo que não combina com posições homogêneas. Trabalhar com a diversidade é algo rico, mas que oferece desafios.

· Um erro comum é cair na tentação de que a empresa já sabe do que a comunidade precisa. Mas, “cada um sabe bem onde dói o seu calo”. O ideal é que a empresa faça um diagnóstico da situação da comunidade, para conhecer melhor suas necessidades.

Existe, sim, muito o que uma empresa pode fazer para fortalecer a dimensão social, o “S” do ESG.

Procuramos, aqui, não apenas chamar atenção para esta possibilidade, bem como mostrar que o êxito no trabalho na dimensão social, depende muito de como a empresa decide adotar uma atitude de maior protagonismo para se aproximar da comunidade.

(*) Alfredo dos Santos Junior
Professor de Ética, Responsabilidade Social Empresarial e Gestão para Organizações da Sociedade Civil. Membro do Grupo Coordenador do Instituto de Ensino e Pesquisa Liga Solidária.