Contra a inflação, o Brasil precisa de líderes
Por Nelson Wilians
Enquanto nossos governantes parecem se engalfinhar pela permanência no poder, um vilão digno de histórias de terror tem tirado o sono da população brasileira: o poderoso dragão da inflação passa a língua de um lado ao outro da boca demonstrando um apetite voraz. Como se já não bastassem as mazelas da pandemia ainda em andamento, agora temos esse outro inimigo a nos espreitar. E não é preciso ser economista para saber que os aumentos da inflação afetam em proporção desigual e impiedosamente aqueles com menor poder aquisitivo.
Ao contrário do que vivem outros países, que estão preocupados com a inflação por motivo inverso – o crescimento econômico com o coronavírus sob controle, a inflação ressurge no Brasil quando a economia está criticamente abalada. A alta de preços das commodities, a valorização do dólar relacionada à tensão política no país, além de um cenário internacional mais conturbado acordaram o dragão da inflação – um fenômeno sobre o qual a maioria dos brasileiros não precisou pensar nos últimos 20 anos.
O déficit fiscal, porém, é a principal escalada para a incerteza. Até o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já se queixou do aumento dos gastos do governo em ritmo de campanha eleitoral. Só com a MP que altera o Bolsa Família e outros programas sociais devem ser consumidos R$28 bilhões, além dos R$34 bilhões atuais. Esse aumento, de acordo com Campos Neto, eleva os gastos públicos acima do teto, tornando “impossível controlar as expectativas inflacionárias”.
Não me considero um pessimista, porém, observo o que está acontecendo no dia a dia em nossos escritórios de advocacia com os índices de atualização para renovação de contratos. Os números afligem a alma, pois se para uns esses índices são vantajosos, para outros são caóticos, e o resultado ao final disso tudo será ruim para todos. Como muito bem frisou o economista americano e vencedor do prêmio Nobel de Economia em 1976, Milton Friedman, “a inflação é tributação sem legislação”. Se desgovernada, não favorece a economia. Ao contrário, desestimula a produção e o emprego, beneficiando ainda a aparição de oportunistas “políticos e econômicos”.
Neste cenário, me vem a citação de Ernest Hemingway: “a primeira panaceia para uma nação mal administrada é a inflação da moeda; a segunda é a guerra. Ambas trazem uma prosperidade temporária; ambas trazem uma ruína permanente. Mas ambas são refúgio de oportunistas políticos e econômicos”. Para as garras do dragão, seria esse novamente o nosso destino? Se não dá para fazer o bem, que é fazer o país crescer, pelo menos deve-se buscar evitar o mal. Ainda estamos em tempo, quem tem ouvidos ouça. Quem tem poder, aja.
Nelson Wilians é empreendedor e advogado.