A retomada de crescimento do setor educacional brasileiro
Por Marcos Boscolo
Durante a pandemia da covid-19, o setor educacional privado brasileiro foi um dos mais afetados. Os resultados financeiros e operacionais de 2021 foram pouco animadores e, isso se deve a diversos fatores. Alguns deles foram o aumento dos custos pelo investimento em tecnologia para adequar às aulas virtuais. Houve ainda necessidade de treinamento de professores que precisaram dividir as atribuições entre aulas presenciais e online, já que muitas instituições adotaram o sistema de revezamento para reduzir o contágio do vírus.
Além disso, outros fatores foram a demanda crescente por descontos nas mensalidades, principalmente, no ensino básico, em função de alguns pais entenderem que os custos com as aulas pelo computador seriam menores e, assim, as escolas precisariam repassar essa economia para os valores pagos e o crescimento da evasão escolar, especialmente, entre alunos de três a cinco anos. Somente nessa faixa etária, no ano passado, houve uma redução de 186 mil estudantes na rede privada de ensino. Além disso, diversos alunos deixaram as escolas particulares, migraram para as públicas ou trancaram suas matrículas. Soma-se a isso o fato de ter havido uma crescente inadimplência devido à retração econômica e redução de salários por mudanças na jornada de trabalho. Isso se tornou frequente, justamente, pela educação ser um dos poucos serviços em que, mesmo com atraso nos pagamentos, não há interrupção e ainda existe a possibilidade de renegociação das dívidas e descontos para o próximo ano letivo.
No entanto, essa situação tende a mudar, como podemos ver por meio dos resultados operacionais e financeiras apresentados pelos principais grupos educacionais no primeiro trimestre de 2022. Os números são bastante positivos e expressivos, quando comparados ao mesmo período de 2021. Só nos três primeiros meses de 2022, foi registrado um crescimento na base de alunos de 42,6%, representando um incremento de mais de um milhão de novas matrículas e aumento de 24,3% na receita, um incremento de R$ 822 milhões no primeiro trimestre de 2022 e cerca de R$ 3 bilhões projetados para os 12 meses de 2022, frente ao ano anterior.
Com isso e com a previsão de receitas bem maiores este ano, o setor começa a se movimentar novamente, retomando projetos paralisados, revisitando e remodelando planejamentos estratégicos, conversas com outras entidades sobe fusões e aquisições, entre outros temas.
As edtechs (startups de educação), também, continuam sendo a principal alavanca de crescimento e geração de novas fontes de receitas. Elas devem movimentar a maior parte das transações este ano, assim como aconteceu em 2021, quando 52% das operações ocorreram em outras modalidades de ensino, ou seja, não envolveram aquisições de instituições de ensino básico nem superior.
Os resultados podem ser ainda melhores dependendo do sucesso na captação de alunos no ensino superior, no segundo semestre deste ano, e no avanço dos principais temas que afetam o cenário nacional e global, principalmente, pelos efeitos da inflação, taxas de juros, guerra, sanções econômicas e disputa presidencial no Brasil. Por serem temas que geram elevado grau de insegurança, acabam freando o apetite para os grandes investimentos, tanto das instituições quanto dos investidores.
A expectativa é que as situações que mais afetam as incertezas econômicas passem a ser atenuadas ou solucionadas nos próximos meses, com a retomada gradativa do crescimento econômico, aumento de emprego e renda, controle da inflação e definição do cenário eleitoral no Brasil. Os avanços nesses temas, aliados ao forte crescimento já demonstrado pelas instituições de ensino, geram um cenário muito satisfatório e promissor para o setor de educação este ano.
* Marcos Boscolo é sócio de educação da KPMG.