A estrada de ferro de Cianorte, um melancólico fim de sonho…

O primeiro meio de transporte obrigatório, para se chegar ate onde seria Cianorte era atravessar o Rio Ivaí de balsa. A Companhia Melhoramentos Norte do Norte, colonizadora da área, para facilitar, construiu esta balsa para que os compradores tivessem acesso à cidade que nascia. Poucos sabem, mas, o construtor da balsa foi TOKUITI KUMAMOTO, que arrendou a balsa da companhia e estabeleceu as tarifas de transporte com motor a diesel. A estrada Pr-323 já estava aberta e limpa no meio da mata. Quando foi construída a ponte sobre o Rio Ivaí, junto veio a estrada de ferro sobre a ponte. Seu destino final era a área da antiga Esplanada em Cianorte, ou Centro Novo como de diz agora, na Zona Sete da cidade. Tudo isto aconteceu antes da fundação da cidade.

O trecho da Esplanada foi deixado aberto, sem datas e sem ruas cortadas, sem vendas dos lotes, porque estava destinado a ser uma estação ferroviária, que chegou a ser por um tempo muito breve.

A Companhia Barbosa Mendes Carpet, uma empresa de Belo Horizonte foi contratada para construir a estrada de ferro e abrir a Esplanada. Em 1.954 a estrada de ferro chegou a Apucarana, depois que os ingleses entregaram a ferrovia nas mãos da União. A construção da estrada prosseguiu até chegar em Maringá. O trem foi recebido em festas e ali parou por treze anos! Passados alguns anos avançou 33 quilômetros avançando até Doutor Camargo e depois Jussara. Um dos grandes problemas para a continuação da estrada foi a construção da ponte sobre o Rio Ligeiro que acabou condenada. Outro grande problema da demora de chegar os trilhos em Cianorte foi a construção da ponte sobre o Rio Ivaí, pois, ela foi planejada tão somente para a passagem de carros, sem trilhos. Isto demandou muito tempo para negociações. Enquanto o trem não chegava os operários cavavam por meio da mata virgem abrindo cavas profundas na zona rural e principalmente, na zona urbana de Cianorte, para a passagem do trem…

O Pontilhão da Avenida Goiás teve que ser construído logo no começo da cidade para deixar que o trem passasse por baixo. Quando avançou mais rumo à Esplanada tiveram que fazer outro pontilhão sobre a Avenida Maranhão para fluir a estrada, inaugurado em 7 de setembro de 1.972. Estes trilhos estavam planejados para chegarem a Cianorte, muito antes da fundação da cidade, bem antes da derrubada da mata, com destino à Guaíra e tinha como objetivo ser a linha férrea mais importante do Brasil. Estava planejada para servir do escoamento da produção agrícola, da pecuária e das riquezas do Paraguai e Argentina.

Enfim, em 1.972 foi inaugurado um prédio provisório que servia como terminal da estrada de ferro que vinha de Ourinhos e chegaria até Cianorte, depois iria para Guaíra e Foz do Iguaçu, de acordo com o projeto original. O mesmo prédio que foi retirado da Esplanada e que servia de atendimento de alguns programas sociais do município. No dia 23 de outubro de 1.972, Cianorte despacha a sua primeira carga, uma partida de 1.500 sacas de café com destino a Paranaguá.

Não servia como transporte de passageiros, pois era muito desconfortável, com bitolas cheias de sinuosidades, com paradas para abastecimento de lenha, andando a 30 quilômetros por hora. A lenha para abastecimento das caldeiras foi-se tornando mais difícil de encontrar e, além disso, precisava a estrada, de uma modernização dos maquinários, eletrificação das linhas, duplicar as mesmas, enquanto as estradas de rodagem se multiplicavam. Até que chegou a geada de 1.975 que acabou com todos os cafezais da região, havendo um grande êxodo da população para outros estados. O custo do transporte ficou muito alto e o governo federal anunciou que estava sem verbas para modernizar ou investir em tamanho empreendimento e a estrada não se alongou e parou definitivamente, por aqui.

O prédio que havia sido construído na Esplanada deixou de servir aos seus fins, e pelo contrato que a Companhia tinha com o Governo havia uma cláusula de reversão e o patrimônio voltou para a Companhia, pois não estava sendo usado para os fins propostos. Os prefeitos que se seguiram usavam o prédio mal acabado para serviços sociais. O prédio que foi projetado para ser um terminal de passageiros e transporte de cargas perdeu definitivamente, seu fim. Aliás, nunca foi utilizado para tal. Um prédio que ficou sem história para contar.

No momento em que tal construção foi derrubada houve polêmica, sem dúvida. Por que estariam retirando um prédio histórico? Na verdade, o prédio nunca teve história para contar, nunca serviu aos seus fins iniciais, era tão somente um velho prédio num lugar nobre da cidade. Fui procurada por algumas pessoas para entender se não estariam profanando a memória da cidade. Temos dois prédios históricos tombados no município de Cianorte: a primeira Igreja Católica de Cianorte e a sede da primeira prefeitura municipal, que serviram a todos os fins possíveis, menos às razões do “porque” que foram tombadas.

Estes monumentos sim, são patrimônios históricos e merecem de imediato uma decisão para que não permaneçam no abandono que se encontram desde o ano de 1.990, quando foram tombados!

“Maria Fumaça morreu de tristeza, com o coração enferrujado, porque a estrada que ia, não foi… Parou…”.

Izaura Aparecida Tomaroli Varella

Historiadora