Erva-mate paranaense como patrimônio agrícola mundial

Marcio Nunes

Todos os meses, a ONU publica em seu site histórias de pessoas que colaboram para que o mundo esteja mais próximo de atingir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

A última delas, deste mês de novembro, mostra uma família aqui do Paraná, mais especificamente de Bituruna, no sul do estado. Liderada por mulheres rurais, a família Vergopolem é uma das guardiãs do tradicional cultivo da erva-mate, produção candidata a Patrimônio Agrícola Mundial.

Todos os dias pela manhã, Verônica Vergopolem se levanta para cuidar do cultivo na propriedade “Serra das Araucárias”. A produção de erva-mate é responsável pelo sustento financeiro e a horta pela segurança alimentar da família. De forma agroecológica, a produtora providencia o pão e as frutas, a erva do chimarrão e até mesmo o arroz, o feijão e as verduras que enchem a mesa em todas as refeições.

Filha de produtores rurais, ela carrega o orgulho de ser agricultora e entende a importância da preservação da natureza. “Eu posso dizer que sou erveira. A gente planta tudo de forma orgânica, nunca usamos químicos. Eu cuido do meio ambiente”, disse à reportagem da ONU.

O conhecimento de Verônica sobre a biodiversidade e o cultivo da erva-mate, bem como o seu carinho, a sensibilidade e o respeito pela natureza, foram passados também para os filhos. Jéssica abraçou o cultivo da erva-mate e hoje, mãe e filha saem para fazer a coleta da semente, o plantio de mudas, a colheita das folhas e a poda.

Por essa dedicação, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) reconheceram a família Vergopolem como exemplo de mulheres rurais, consideradas as principais responsáveis pela transmissão do conhecimento e da perpetuação da história de seus povos, incluindo conhecimentos técnicos, como manejo agroecológico, seleção de sementes ou uso medicinal de ervas.

Patrimônio mundial – Em dezembro de 2021, a FAO realizou uma missão para a avaliação da candidatura da produção tradicional de erva-mate no Paraná como um dos Sistemas Importantes do Patrimônio Agrícola Mundial (SIPAM). A produção no centro-sul e sudeste do estado envolve aproximadamente sete mil agricultores e agriculturas, e alia a produção agrícola à manutenção de tradições, valorização social, saberes populares e preservação do meio ambiente.

A erva-mate é uma espécie nativa da região sul do Brasil usada no preparo de bebidas, como chimarrão, tererê e infusões (“chá mate”). É cultivada em modo agroecológico junto a remanescentes de Floresta com Araucária, onde as plantações se consorciam com a vegetação nativa, aproveitando a iluminação e o sombreamento sobre as plantas, bem como os nutrientes providos pela própria floresta.

Ao redor do mundo, a FAO já reconhece 62 sistemas agrícolas em 22 países. Destes, apenas quatro estão na América Latina. O “Sistema Tradicional e Agroecológico de Erva-mate na Floresta com Araucária” é candidato a ser a segunda iniciativa brasileira reconhecida pelo programa SIPAM – a primeira foi o sistema tradicional das comunidades apanhadoras de flores sempre-vivas, da Serra do Espinhaço em Minas Gerais.

Será um grande reconhecimento a esta tradicional cultura, tão presente na história, na economia e na cultura paranaenses.

Marcio Nunes é deputado estadual e ex-secretário do Desenvolvimento Sustentável e do Turismo do Paraná.