Governo distribui máscaras-escudo produzidas em 3D no Paraná

A máscara-escudo (face shield) impressa em 3D, símbolo do combate ao novo coronavírus, é a nova passageira dos carros oficiais do Estado do Paraná. Nesta semana, servidores e veículos da Casa Civil e da Defesa Civil passaram a integrar uma iniciativa solidária de curitibanos para fazer e distribuir esse equipamento de proteção para hospitais públicos, privados e unidades de pronto atendimento.

Já há iniciativas similares em andamento em outras cidades como Cascavel e Pato Branco (veja box).

A máscara-escudo nasceu na República Tcheca, no bojo do combate global à Covid-19 e da alta demanda por equipamentos hospitalares, e em pouco tempo chegou ao Brasil. Em Curitiba, a ideia começou a sair da máquina no sábado passado, dia 21 de março, quando três empresários que têm impressoras 3D decidiram montar um pequeno grupo em uma rede social com intuito de fabricar esses protetores faciais a partir do código livre disponibilizado pela empresa do leste europeu.

No sábado, dia 28, exatamente uma semana depois, a rede recém-nomeada de Atitude 3D já integra pelo menos 150 pessoas, 25 produtores ativos, uma cadeia de fornecedores e os servidores públicos estaduais. Foram mais de R$ 10 mil arrecadados, 2,2 mil entregas em apenas sete dias e já são 10,3 mil novos pedidos na fila depois que os hospitais se conectaram na iniciativa.

A máscara-escudo segue o modelo padrão internacional. Ela é formada por três peças: a placa de acetato, transparente, que é a viseira; uma “tiara” com pontos que serve de sustentação (a única confeccionada na impressora 3D efetivamente); e um elástico que ajuda a fixar o equipamento no profissional. Ela é um Equipamento de Proteção Individual (EPI) para o rosto e serve como complemento para as máscaras comumente utilizadas pelos profissionais de saúde, do tipo N95. O objetivo principal é proteger a região dos olhos.

Rede

Um dos idealizadores do movimento é o empresário Felipe Aranega, da empresa Produteca. Ele disse que a ideia nasceu de maneira tímida em um bate-papo com outros dois amigos. “Por um tempo trocamos links sobre essa máscara, sobre como as impressoras 3D estavam sendo utilizadas nesse momento e na semana passada criamos um grupo para conversar de maneira mais séria. Em pouco tempo reunimos engenheiros, médicos, idealizadores. Tudo de maneira orgânica. Eram 15, depois 150”, conta Aranega. “Logo em seguida o Governo do Estado nos procurou para saber como podia ajudar, foi quando surgiu a ideia da utilização dos veículos para a distribuição”.

Ele explica que quem trabalha com prototipagem passou a acompanhar muito de perto as soluções adotadas nos outros países contra o coronavírus. “Essa máscara de acetato é um símbolo global. Alguns países começaram esse movimento e em pouco tempo universidades brasileiras, entidades empresariais e pessoas autônomas passaram a investir nesse modelo com intuito de ajudar as suas comunidades”, acrescenta o empresário. “E desde que começamos o trabalho é praticamente 24 horas por dia. A operação vem crescendo todos os dias”.

O principal articulador da iniciativa no poder público é Henrique Domakoski, superintendente de Inovação da Casa Civil. Essa tecnologia, destaca, se transformou em uma aliada global contra o coronavírus. “É um exemplo prático de como tecnologia e inovação podem ajudar a salvar vidas. Os empreendedores trabalharam rapidamente e em rede para ajudar profissionais da saúde. A partir de um protótipo de código livre o mundo inteiro se uniu”, afirma.

Ele cita que o ingresso do Governo do Estado na rede permitiu acelerar o processo. “Em Curitiba, empresários e especialistas em tecnologia se conectaram de maneira extremamente veloz para garantir essa produção que em tão pouco tempo já é robusta. Diante da necessidade de isolamento social, criaram uma rede de solidariedade. Desse exemplo surgiu a ideia de ajudar o movimento. O principal gargalo era fazer com que os insumos e o material produzido chegassem a quem realmente precisa, então resolvemos apoiar com toda a logística”, complementa.

Como funciona

A partir da rede de contatos, os idealizadores adotaram duas estratégias: de um lado, começaram uma campanha online por doações financeiras para compra dos insumos; de outro, montaram uma cadeia de produção, controle e distribuição, nos moldes de uma empresa de médio porte. Conforme a rede crescia ao longo da semana, hospitais públicos e privados entraram em contato e os voluntários que iam se avolumando passaram a filtrar o que era realmente verdadeiro nesses pedidos e a centralizar os contatos. A única regra é a gratuidade da entrega.

A logística segue uma ordem lógica para atender todos os interessados. Segundo os organizadores, 1 quilo do material necessário para produzir a tiara equivale a 25 peças (o rolo custa cerca de R$ 100, enquanto as unidades têm preço médio de R$ 5). O produtor conectado a essa rede ganha um rolo e assim que termina a produção e entrega as peças, recebe mais insumos. As peças são levadas para um galpão no bairro Santa Felicidade, onde outros voluntários fazem a montagem com as outras duas peças.

Os veículos do Governo do Estado entram na etapa de distribuição entre os hospitais credenciados, em uma lista que já conta com o Hospital das Clínicas, Hospital Cajuru, Hospital Nossa Senhora das Graças, Hospital do Trabalhador, Pequeno Príncipe, maternidades e unidades de pronto atendimento da Capital. A matéria-prima é comprada em Curitiba de produtores que também adotaram essa causa e passaram a vender os insumos por preços abaixo das tabelas oficiais.

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