Sobre o jornal “Tribuna de Cianorte”, relembrando suas origens

Izaura Aparecida Tomaroli Varella

No dia 1º de maio de 1.956 começou a circular o primeiro jornal comercial em Cianorte, chamado “A Voz de Cianorte”, cujo diretor comercial era Sebastião Zinho Serrate; foi o primeiro jornal, mas, era de circulação intermitente, por isto mesmo, não prosperou. Um jornal que circulasse semanalmente era um bem necessário, numa cidade que havia sido fundada há apenas três anos, que não tinha telefone, nem rádio, nem telégrafo, a não ser os aparelhos de comunicação da Companhia Melhoramento Norte do Paraná, fundadora da cidade. De qualquer forma, uma cidade tão pequena, não tinha notícias suficientes para encher páginas de jornal e a “A Voz de Cianorte” não prosperou.

Amândio Mathias, pioneiro, foi o primeiro Secretário Municipal da Prefeitura Municipal de Cianorte, logo no decorrer da primeira gestão do Prefeito Wilson Ferreira Varella. Portanto, Amândio passou a conviver com as notícias diariamente, e começou a publicar um panfleto chamado “A Hora de Cianorte”, que era escrito por ele e editado em Curitiba. Impossível, portanto, ter um jornal diário naquele tempo em que não existia nenhum mecanismo de comunicação. Por isto mesmo, circulava poucas vezes ao ano. Depois, ainda em 1.955, Amândio lançou o jornal “O Espinho”, onde como redator, escrevia acidamente contra tudo aquilo que não concordava, era um crítico contumaz, mas um homem muito inteligente que sabia o momento certo de parar. “O Espinho” era assinado por Zé Veneno, e, transformou-se numa sátira, que falava sobre tudo o que o editor presenciava ou ficava sabendo de outros. Um dia, alguns anos antes de morrer ele me deu de presente a edição número 1 do jornal “O Espinho”, que tenho guardado como relíquia até hoje. Como os outros, este jornal também teve seu fim.

Amândio Mathias era popular no município, tinha um cargo municipal importante, estava vivendo no meio da efervescência de noticias políticas e também sociais, pois, a comunidade cianortense, devagar se organizava. Um homem culto, que gostava de literatura e de escrever não poderia ficar inerte e foi assim que em 23 de dezembro de 1.965 fundou o jornal “A Tribuna de Cianorte”, hoje “TRIBUNA DE CIANORTE”, que circula ininterruptamente, até os nossos dias, portanto, com 56 anos de edição! Porém, desde setembro de 1.965 o jornal já circulava, aos trancos e barrancos, ora saía a edição, ora não saía. Afinal, Amândio Mathias era o “faz tudo”, capitaneava o jornal, escrevia, editava, corrigia, era repórter, imprimia, publicava, distribuía, praticamente, sozinho. Mais tarde, contratou um funcionário conhecido como Jaraguá que o auxiliava nas diversas tarefas.

Passados dez anos, em 26 de julho de 1.975, Amândio inaugurou a oficina própria, com impressora, quando ilustres pessoas da época compareceram na cerimônia, como o Prefeito Municipal Nelson Prendin e seu vice João Bonametti, jornalista e locutor Wilson Silva, Dr. Paulo de Moraes Barros Neto, Diretor da Cia. Melhoramentos, Dr. Francisco de Assis de Macedo Freire, ex- vereador, Hélio Manfrinato, ex-deputado estadual (1.970) e Dr. Omar Simão Chueiri, todos já falecidos com exceção de Hélio Manfrinato. Amândio Mathias foi bastante prestigiado, proprietário de um jornal tradicional e forte em plena ascensão.

Até que um dia, em 31 de julho de 1.977, publicou uma pequena nota com o título Conto do Vigarista, que tratava de um refinado malandro que andava pelas redondezas rurais aplicando o conto da aposentadoria. Sempre, Antonio Silveira Neto, aparecia nos sítios e nas redondezas, acompanhado de uma mulher, num carro novo Brasília, quando abordava inocentes pessoas e aplicava o conto da aposentadoria em troco de soja. Como se tratava de vigarista refinado, não demorou o troco. Em 4 de agosto de 1.977, na saída para Maringá, num posto de combustível próximo, Amândio abastecia seu carro e foi abordado pelo malandro que ao confirmar a identidade de Amândio atirou nele à queima roupa e o deixou estirado no chão. Nunca mais o assassino foi visto e nosso amigo Amândio foi assassinado naquele momento. Deus me fez ser testemunha da história de Cianorte, porque eu também neste momento abastecia meu carro no mesmo posto de gasolina!

Izaura Aparecida Tomaroli Varella

Advogada e escritora

Cianorte, maio de 2.022