Quem se lembra do “seu” Apparício?

Lá pelos idos de 1.989 fiz parte da Câmara Municipal de Cianorte, como vereadora eleita, cujo mandato se encerrou em 1.992. Tudo era novidade para quem nunca tinha se envolvido com política, eleição, palanque e outros “stress”. Como seria o desenrolar dos dias ao longo do mandato? E isto era uma pergunta que todos os vereadores eleitos fazia, a maioria absoluta sem qualquer experiência, mas com muita vontade de acertar. Foi um grande momento de renovação do Poder Legislativo na Cianorte de então. Dentre os vereadores eleitos havia quatro médicos: Jorge Akira Honda, Jorge Abou Nabhan, Wilson Tramontini e Luiz Fernando Nicolau, este eleito Presidente da Câmara para o primeiro biênio, além de Luiz Zampar, Izaura Aparecida Tomaroli Varella, Jurandir Romero, Mário Padial e Manoel Boto de Oliveira. No ano de 1.988 havia sido promulgada a nova Constituição Federal e os estados foram se adaptando, assim como os municípios brasileiros. Cianorte também se dedicou a este trabalho criando a nova Lei Orgânica Municipal e os vereadores eleitos tiveram uma incessante e importante tarefa de criar a nova Constituição de Cianorte. Foi um trabalho árduo no primeiro ano e já em 1.990 tínhamos criada e promulgada a nova Lei Orgânica Municipal de Cianorte!

Se, dúvida foi um trabalho intenso, mas tínhamos à retaguarda a valiosa ajuda do Diretor Administrativo da casa Gesner Manfrinato, de Sirley Rigaldi e Apparício Pereira Bexiga.

E é justamente ao senhor Apparício que desejo me ater. Dias atrás encontrei com o vereador do passado Jorge Abou Nabhan e decidimos fazer uma visita a este funcionário exemplar da Câmara da qual fizemos parte. Jorge, participativo e solidário concordou e lá fomos em busca do “seu” Apparício, sim, Apparício com dois “p”. Encontramos aquele homem gentil e acolhedor que foi o nosso braço direito no passado e com o seu melhor sorriso nos recebeu em sua casa e com um abraço caloroso e sincero de amizade e carinho. Quando conversávamos ele revelou a sua idade, nada mais que 96 anos de vida, cheia de luta e história boas para contar.

“ seu” Apparício nasceu em 25 de maio de 1.927 em Centenário de Sul, aqui mesmo no Paraná, onde tinha um escritório de contabilidade. Chegou em Cianorte em maio de 1.966, um pioneiro legítimo da primeira década de fundação da cidade, portanto. Com o seu irmão Paulo Bexiga abriu um comércio de vendas de peças de rádio (existia isto, sim…) na Avenida Maranhão, perto do Bar do Roque. No ano de 1.974, por entender de contabilidade, migrou para a Câmara Municipal de Cianorte, como funcionário e lá permaneceu até se aposentar em 1.992.

E foi aí que conhecemos o caráter deste homem honrado, membro da Igreja Batista do Calvário. Humilde e silencioso em seu trabalho, passou ileso, por inúmeros cataclismos políticos, bem próprios de nossa sociedade e sobreviveu, sobretudo, por não envolver o seu trabalho eficiente com nada que viesse dos nichos políticos e muito menos com maledicência. Ele estava lá sempre pronto para atender o vereador em suas dúvidas, e embora fosse responsável pela contabilidade da casa, mantinha o respeito e amizade com todos que o procuravam. Nas quentes discussões que aconteciam na câmara até esquecíamos que “seu” Apparício estava por lá, mas, quando a sua ajuda era necessária, a mão solidária nunca faltou a quem o procurava. Sem distintivos partidários, sem lados políticos, com opinião silenciosa sobre tudo o que via e ouvia e dali sequer um comentário maldoso se propagava.

Uma pena que a professora Yvone Steinberg Bexiga, tenha se despedido de nós em 16 de setembro de 2.019, uma companheira fiel, religiosa, que com Apparício criou seus filhos na unidade da família com amor. Daí vieram seus filhos Fábio, casado com Sonia que lhe deram os netos Ana Maria, André e Salisa, e esta lhe deu dois bisnetos Daniel e Alice. E seu filho Flávio casado com Rosana lhe deram mais dois netos: Nathalia e Felipe. Tiive o prazer de desfrutar da amizade acadêmica, no Curso de Direito com um de seus filhos, o Flávio, uma pessoa boa e decente, tal qual o pai.

Esta visita ao “seu” Apparício foi o pagamento de uma dívida antiga de amizade e conseguimos devolver a ele, o Jorge e eu, toda a gentileza que proporcionou a nós em nosso tempo de convivência. É uma pessoa que viveu a maior parte de sua vida nesta terra abençoada, um pioneiro que merece ser homenageado e que ainda na longevidade de seus 96 anos é um homem lúcido, dando boas risadas, falando com clareza, porque a força da oração diária e a leitura da Bíblia pelas madrugadas o sustenta e sustenta o seu espírito. Fique certo “seu” Apparício que estaremos lá na sua casa no seu aniversário de 100 anos, porque Ezequias fez a promessa de vida longa ao nosso querido amigo Apparício.

Izaura Aparecia Tomaroli Varella
Historiadora e cidadã cianortense.