Os municípios e as doenças oncológicas
Ramon Andrade de Mello (*)
As doenças variam com o tempo e com a população. Por sua vez, a ciência busca respostas para novos desafios que surgem ao longo dos anos. A pandemia de Covid-19 foi um marco na humanidade diante dos impactos causados, bem como as respostas encontradas. Em um outro período, dificilmente teríamos uma vacina na velocidade com que ela foi produzida para combater o coronavírus.
Fatores como melhoria das condições de saneamento têm impactos diretos na saúde. No Brasil, por exemplo, a redução de doenças infectocontagiosas melhorou a qualidade e aumentou a expectativa de vida da população. Por outro lado, a curva de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como hipertensão arterial, diabetes, entre outras, tende a crescer, bem como os casos de enfermidades oncológicas.
Um dado recente traz um sinal de alerta para os municípios. Hoje, em 10% das cidades brasileiras o câncer já é a principal causa de morte. Estimativas do Inca (Instituto Nacional de Câncer) apontavam para 600 mil novos registros no período de 2018 e 2019. Para 2020-2022, a projeção subiu para 625 mil.
A pandemia também impactou no diagnóstico e tratamento do câncer. Em 2020, foram registradas queda de 40% nas mamografias e nos exames de câncer de estômago. As biópsias diminuíram 29% e os exames de próstata, 25%. Redução ainda nos exames de pulmão (-23%) e câncer colorretal (-25%).
Os munícipios têm pela frente o desafio de avançar em dois pilares para o enfrentamento das doenças oncológicas: prevenção e diagnóstico precoce. A elegibilidade de públicos-alvo para programas preventivos é um dos caminhos. As mulheres, pessoas obesas e homens a partir dos 65 anos de idade fazem parte de grupos prioritários. Além da garantia de exames para câncer de mama e próstata para esse público, por exemplo, é importante implantar programas que promovam a qualidade de vida por meio de mudanças de hábitos.
Os impactos do crescimento dos casos de câncer afetarão inclusive os recursos financeiros da saúde. Estimativas publicadas pelo Inca mostram que os gastos totais com os cânceres associados ao excesso de peso em 2018 foram de R$ 2,36 bilhões no Brasil. Em 2030, a saúde pode dispender R$ 4,18 bilhões nesses casos e, em 2040, R$ 5,55 bilhões, se não forem adotadas medidas preventivas.
O diagnóstico precoce é fundamental para o sucesso do tratamento. Por isso, quanto mais cedo o paciente for tratado, melhores as chances de cura e sobrevida.
O câncer pode ser prevenido e pequenas mudanças de hábito fazem uma grande diferença no futuro. Podemos viver mais e melhor para aproveitar tudo de bom que a vida oferece!
(*) Ramon Andrade de Mello é médico com PhD em oncologia pela Universidade do Porto, Portugal, e professor da disciplina Oncologia Clínica do doutorado em medicina da Universidade Nove de Julho (Uninove).