Como o preparo é chave por mais mulheres em posições de lideranças em empresas de tecnologia

Fernanda Rodrigues*

A cada dez posições de comando e liderança de empresas em geral, não mais do que três terão uma mulher ocupando-a no mundo todo, segundo uma recente pesquisa global. Ao considerarmos apenas o Brasil, outro levantamento – do Insper e Talenses Group – apresenta números ainda menores (17%), dado este que se aproxima quando pensamos em cargos na indústria de tecnologia, que tem menos de 20% de mulheres presentes.

Esta mesma pesquisa, feita pela empresa de recrutamento Michael Page, nos mostrou que somente 26% das companhias da América Latina se preocupavam em ter programas de atração e retenção de talentos femininos em suas forças laborais. Enquanto os índices mostrados por especialistas soam desanimadores, há uma luz no fim do túnel e fico feliz em integrar uma das iniciativas importantes.

A visita ao país da nossa CEO global, Marika Lulay, no ano passado reforçou uma bandeira que encampamos há pelo menos dois anos: a necessidade de termos mais mulheres trabalhando pela transformação digital de empresas e negócios. Para chegarmos onde queremos, é preciso antes de tudo reconhecer a posição em que nos encontramos. Dos nossos 3 mil funcionários no Brasil, 22% (637) são do sexo feminino, das quais 8% ocupam cargos gerenciais e 1% na alta gestão.

Como podemos ver, são números que parecem estar na média do mercado, porém nem de longe apresentam a nossa meta que é, até 2025, ter pelo menos 30% da nossa força de trabalho na operação brasileira composto por mulheres, em conformidade com o ODS 5 da Agenda 2030 da ONU. As soluções já começaram dentro de casa e assim nasceu o Projeto Elas, que visa promover a equidade de gênero, desenvolvendo as lideranças femininas na companhia. É por meio dele que buscamos identificar, fortalecer, mentorar, capacitar e desenvolver lideranças femininas.

Em 2022, 50 novas colaboradoras foram contratadas e treinadas por meio de uma das nossas ações de equidade, intitulada à época GFT Start Woman Java, este focado em mulheres que estão iniciando a carreira em tecnologia. O grande interesse nos fez perceber a necessidade de atuar com ainda mais ambição nesta frente e o Projeto Elas é um passo extra, olhando internamente para empoderar cada uma das nossas mulheres. E aqui, cabe mencionar, é importante ser o mais honesta e transparente possível, pois os nossos objetivos a médio e longo prazo são claros e o desafio é grande.

Eu mesma, como CHRO para o Brasil e América Latina, vivi na pele a maioria das dificuldades que temos em relação aos homens na hora de ascender na carreira. De assédios diversos a não nos sentirmos preparadas – e muitas vezes nos sabotarmos no processo –, falei a um público interno de 120 colaboradoras sobre como cheguei até aqui. De lá para cá, trouxemos outras executivas inspiradoras nos últimos meses e, passo a passo, estamos construindo uma rede interna que, em um futuro próximo, gerará novos talentos femininos para liderar.

Em um momento em que empresas e negócios enxugam custos em favor de maior eficiência, o gasto financeiro para desenvolver maior igualdade de oportunidades para homens e mulheres é ínfimo, não servindo assim como desculpa para a falta de ação. Entretanto, o foco nas colaboradoras não significa que os homens devam ficar de fora de um programa como o Projeto Elas. Muito pelo contrário. Trabalhamos internamente também com eles, com temas reais, para que sejam não acusados de serem o problema, mas sim parte da solução.

Com mulheres empoderadas e homens alinhados com as questões que as envolvem no ambiente de trabalho, acredito que seja possível inspirar e lapidar talentos, que podem estar em diferentes momentos de carreira – do estágio aos postos de chefia, todas irão participar do Projeto Elas. É uma estruturação que dá trabalho, na qual nem sempre temos os insumos ou o pessoal na quantidade que gostaríamos, mas que ao final gerará os frutos que queremos.

Performance e potencial não dependem de gênero. O que nós já sabemos na teoria queremos ver transformando na prática, dentro das posições de chefia. Ao mesmo tempo, iniciativas inclusivas não devem ser vistas sob a ótica mercadológica e do marketing empresarial. Diferentes perspectivas só acrescentam positivamente do nível operacional ao estratégico. E, neste sentido, o mundo da TI agradece.

*Fernanda Rodrigues é psicóloga pela Unip, com MBA em Gestão de Pessoas e especialização em Direito Empresarial e Docência pela FGV, docente no curso de pós-graduação em Gestão de Pessoas na Faculdade Anhanguera e CHRO LATAM na GFT Technologies.