Cianorte, 70 anos! E já foi terra dos xetás e dos sutis…

E já foi terra dos xetás e dos sutis…

“Havia os SUTIS. Era uma família enorme de porcadeiros que se enquistou no mato.
Derrubavam o mato, plantavam milho, soltavam os porcos no milharal, engordavam
e pelos picadões traziam a carne para vender nas pequenas cidades que existiam…
Na medida em que a civilização chegava os empurrava para dentro da mata…”

(Depoimento de Helena de Moraes Barros)

Muito antes do homem civilizado chegar por estas bandas de Cianorte, nossa terra foi habitada por indígenas e povos nômades. Por mais de duzentos anos esta área permaneceu deserta e
abandonada e tão somente a selva pairava soberana e intocável nesta vasta área. Quando os XETÁS apareceram em nossa área, eles se compunham numa pequena nação de quase quatro mil indígenas e se abrigavam nesta cerrada mata que havia entre os rios Ivaí e Piquiri e na
medida em que o progresso chegava, iam sendo empurrados para o mato adentro.

Os Xetás possuíam uma cultura primária e rudimentar e na linha do tempo, vivia, na Idade da Pedra Lascada. A fricção de pedra e gravetos lhes forneciam o fogo e percorriam a floresta
sempre levando consigo uma chama acesa. Foi um povo estritamente paranaense, descendente da etnia Tupi-Guarani, muito primitivo. Formavam grupos nômades e viviam da coleta de alimentos como frutos, raízes e sementes encontrados na selva, assim como viviam da carne de caça de porcos do mato, cobras, pacas, capivaras, abundantes na região. Comiam também insetos e palmitos que eram encontrados em
abundância, assim como o mel.

O progresso os obrigou a ir para a frente e buscaram novas oportunidades na Serra dos Dourados, lá se dispersando ao longo do tempo.

Mas, um grupo curioso de nômades também existiu por aqui, chamados SUTIS. Antes da fundação de Cianorte WILSON FERREIRA VARELLA já andava por aqui, no final dos anos 40 para frente. Como funcionário da Companhia Melhoramentos Norte do Paraná este
homem foi o pioneiro que comandou turmas de mateiros que vieram desde 1.950 derrubando a mata para cumprir a implantação do projeto da cidade de Cianorte, feito pelo engenheiro JORGE DE MACEDO VIEIRA, que planejou a cidade com largas avenidas e praças redondas arborizadas.

Quando o primeiro prefeito Wilson F. Varella assumiu a cidade em 1.955, os Sutis moravam na região de Japurá, que pertencia nesta época ao município de Cianorte. E ele foi o primeiro a fazer contato com estes povos estranhos que permitiam que somente o chefe falasse, enquistados no mato, sobrevivendo às custa de carne e farinha de milho. O primeiro contato com eles foi organizado por ele e mais alguns funcionários da Companhia. Mais tarde a preocupação do Prefeito foi levar as primeiras vacinas e com Celso Antonio Broetto,
deslocaram-se com tropas de mulas, levando presentes, objetos, brinquedos para atraí-los, pois, a varíola era frequente na região. Aparentavam ser uma mistura de índios e caboclos. E havia entre eles pessoas loiras, outros albinos, com cabelos, olhos e sombracelhas brancas, indícios de que se relacionavam entre parentes. Parecia ser um povo em processo de degeneração da raça, e até havia entre eles pessoas de baixa estatura, abaixo do normal. Curioso que vivia entre eles um homem de grande altura, de cabelos vermelhos e olhos azuis, chamado de João Inglês, branco, que dizia que era originário de Castro… Não tinham contato com outras pessoas e se afastavam e se calavam quando percebiam algo estranho. Havia entre eles pessoas portadores do Mal de
Hansen (lepra), talvez por isto mesmo se isolavam dos outros. Viviam da caça e da pesca que eram abundantes por causa da proximidade com o rio Ivaí. Extraiam palmitos das matas, comiam frutas como jabuticabas, cerejas e guabirobas.

O pioneiro JOSÉ CARDOSO PINTO relembra que:
“Os Sutis moravam para frente de São Tomé e foram transferidos. Eu mandei dois caminhões mudá-los e foi um dirigente que entendia a linguagem deles, estava acostumado com eles. Então pedi aos motoristas que quando lá chegassem não buzinassem os carros porque nunca tinham ouvido buzina de um carro. Um dos motoristas não obedeceu e buzinou. Depois foi a mesma coisa que juntar gado esparramado. Eles viraram para o mato e se esconderam, aí deu o que fazer para tirar eles de lá. Gastaram um dia e uma noite para tirarem os Sutis do meio do mato e levaram eles para uma gleba de Campo Mourão, lá em Roncador. Eles eram uma família grande. Uma espécie de família que cresceu e aumentou. Então, a Companhia arrumou essas terras de lá para tirar eles daqui…”

Hoje Cianorte paira soberana e bela, formosa como uma donzela, jovem como uma adolescente, e com seus 70 anos, não tem sequer um cabelo branco, mas somente o branco dos ipês que
florescem na cidade. Esta jovem com sua rica história foi nosso berço, berço de nossos filhos, netos e bisnetos e jamais envelhecerá, não que o envelhecimento seja ruim, mas por que com seus 70 anos revela toda a mocidade que ainda tem. Cianorte cresce e amadurece a cada dia que
passa e não permite que seu povo esqueça a sua história, que, aliás, é sua maior riqueza!

Izaura Aparecida Tomaroli Varella
Cidadã Benemérita de Cianorte com orgulho!