Academia de Letras de Cianorte
(Criação e Posse dos acadêmicos)
23 de Junho de 2.022
Com bem disse o nosso Mestre de Cerimônias, Wilson, vivemos neste momento um evento histórico e único em nosso amado município de Cianorte, que está em minha vida desde o ano de 1.959. Pioneiríssima, portanto; muitos entre nós sequer havia nascido, mas, já estava escrito que estaríamos reunidos aqui, neste 23 de junho de 2.022!
Este ato marcará para sempre a vida de Cianorte, eis que as portas se abrem para acolher a cultura, a arte de ler, escrever. Há décadas esperávamos por isto e o Prefeito Municipal Marco Antonio Franzato acolheu este desejo e acreditou na sensibilidade de nosso Secretário Municipal da Cultura Rodrigo Severino de Jesus, que alcançou o nosso primeiro Presidente da Academia de Letras de Cianorte Lincoln Aguera Munhoz, que precisou de socorro e o Lyons Clube abriu suas portas para que Lincoln encontrasse a Presidente da Academia de Letras de Maringá Maria Eliana Palma, e que se enlaçou com a Presidente da Associação das Academias de Letras, Ciências e Artes do Paraná, Lucrécia Welter Ribeiro. Os laços generosos se tornaram fortes e fizeram acontecer a nossa Academia com estas valiosas e imprescindíveis colaborações. Agora somos uma massociação cultural, sem vínculos políticos partidários, independentes.
E os futuros acadêmicos aqui presentes foram se juntando sob a eficiência de Lincoln, e compondo a academia, honrando-me com esta função de Oradora, através do voto. Cada um dos acadêmicos escolheu o seu patrono e as cadeiras que seriam ocupadas foi um ato de sorteio.
E aí vem Carlos Drummond de Andrade, que a vida me deu como Patrono, que sem me consultar me coloca na cadeira número “UM” da Academia de Letras de Cianorte. Uma honra, e, sobretudo, uma grande coincidência; fiz parte da primeira turma de professoras normalistas formadas em Cianorte; para lecionar exigia-se que se tivesse 18 anos, eu era menor, meu pai me emancipou, mas precisava de título de eleitor para a minha nomeação, e que para minha surpresa levava o número UM, da Comarca de Cianorte, só percebido por mim, muitos anos mais tarde. Fui primeira Diretora da Escola Maria Montessori e Colégio Dom Bosco, primeira Chefe do Núcleo Regional de Educação de Cianorte, estou casada com o filho do primeiro prefeito municipal de Cianorte Wilson Ferreira Varella, fui eleita a primeira vereadora mulher de Cianorte e o meu Patrono Carlos Drummond de Andrade me coloca na cadeira número UM desta Academia, uma outra feliz coincidência em minha vida, sem que eu pedisse. No entanto, a mais feliz coincidência for ter como padrinhos de minha posse o casal de Professores Angelo Luis Scopel e Loeni Faria Scopel, que há 50 anos fui madrinha de casamento do casal.
Quando este meu poeta Drummond, inspirador, modernista, resolveu tirar as rimas e a metrificação das poesias que escrevia, tal como esta:
No meio do caminho tinha uma pedra. Tinha uma pedra no meio do caminho.No meio do caminho tinha uma pedra.
Drummond deixou que o coração falasse sem as medidas da sintaxe tradicional, e causou um verdadeiro escândalo literário. Rompeu a tradição poética de então e diante dos impropérios dos descontentes, responde aos seus críticos de forma bem confortável, mas sarcástica:
Mundo, mundo, vasto mundo, Se eu me chamasse Raimundo.Seria uma rima, não seria uma solução.
E assim como Drummond, nós acadêmicos aqui presentes, fomos buscar a solução, porque a cultura exige a sensibilidade do poeta, do escritor, a cultura tem a necessidade de nos comover diante da história de nosso povo. Por isto mesmo, ainda continuo entusiasmada com meus escritos buscando resgatar a verdadeira história de Cianorte, escrevendo meus livros. Andamos pelos caminhos da história que nós mesmos construímos. Um povo inculto é um povo amarrado, facilmente, convencido pelos homens da vez.
Só o conhecimento trás a clarividência de ser livre, sem ter dependência desta ou daquela ideologia, sem egoísmo, sem amarras e crente nas leis, e que com seus limites tornam um povo humanizado. A presença da cultura em um povo preserva sua história e os saberes da civilização humana, mas nada é patrimônio pessoal deste ou aquele; é como se fosse um fio invisível, que desliza no saber, onde vamos encontrar parte de nossa alma. É necessária esta procura de si mesmo, nenhum homem é completo sozinho!
E o poeta português Fernando Pessoa já dizia:
Navegar é preciso…
Viver não é preciso.
Continuar navegando e deixar que os outros completem o nosso trabalho é um ato de humildade e a humildade é um ato de sabedoria; o prepotente não
Navega,
Portanto, para o prepotente, viver não é preciso.
Só a cultura é capaz de mudar o mundo, e cada um encontrar a sua própria verdade, pois, só a verdade da cultura faz encontrar o caminho da alma.
Enfim, queremos e desejamos, nós acadêmicos, que estejamos à altura do honroso ofício que assumimos hoje. Nunca diremos: ‘encontrei a verdade’, mas diremos ‘encontrei uma verdade’, porque ela não será só nossa, e também não diremos: ‘encontrei o caminho da alma’, mas vamos dizer: ‘encontrei a alma andando em meu caminho’. Porque a alma anda por todos os caminhos. A alma não marcha em linha reta, nem cresce como um caniço. A alma desabrocha, tal qual a flor de lótus com inúmeras pétalas. Este é nosso propósito dentro da Academia de Letras de Cianorte.
Orgulho de ser uma cidadã cianortense!
Izaura Aparecida Tomaroli Varella