A beleza das saudades

Há dias em que memórias se revolvem e voltam à superfície, e trazem consigo todas as sensações tão vivas que parecem lembranças da véspera ou de poucos meses atrás, no máximo. Nos últimos dias, trabalhei estes versos e as saudades da minha saudosa avó, Luzia que, há quase 7 anos, partiu para cumprir seu papel em outras dimensões.

Acredito na ausência total de qualquer separação entre todas as coisas, não há espaços vazios entre tudo o que nos cerca, seja no universo tangível ou não. Estou certo da interação constante entre tudo, inclusive entre os diferentes planos da existência. É por isso que, agora, qualquer saudade está longe de ser ruim. Agora, toda saudade, toda memória que ressurge sabe-se lá de onde em mim, é sinal de que a outra testemunha, que compartilha destas memórias, está ou esteve por perto, passando para dar um oi, para conferir se tudo vai bem, e cochicha nos meus ouvido as tantas coisas boas que vivemos juntos.

Me agrada saber que, de alguma forma, estive novamente envolvido carinhosamente pela minha avó. Pude até sentir o cheiro de Creme Nívea que habitava seus abraços e ouvir o estalar dos chinelos pelo chão da casa, enquanto vasculhava o coração atrás das palavras certas para estes versos. Obrigado pela visita, querida avó. Volte sempre. Foi, e será sempre, uma alegria imensa compartilhar de mais alguns momentos com você.

 

Os olhos de Luzia

 

Luziam azuis os olhos de Luzia

Acompanhavam um riso franco, de não se esquecer jamais

Enchiam a casa de luz e de alegria

E a vida. Colorindo o mundo dos meus ancestrais

 

Doces memórias que embrulho em nostalgia

Para evitar que o tempo lhes roube o bom sabor

O girassol do campo da canção antiga

O colo e o aconchego, o perfume e o mar de amor

E não só isso. Muito mais dela levo comigo

Nessa vida que sonhava que eu vivesse, e vivo

 

Luziam azuis os olhos de Luzia

E me escapam lágrimas ao pisar nestes quintais

A saudade dói, ainda, dia a dia,

Onde os olhos de Luzia já não luzem mais