Dirceu Manfrinato faz revelações polêmicas sobre a Câmara

O novo presidente da Câmara de Vereadores de Cianorte, Dirceu Manfrinato (PT do B), disse, em entrevista exclusiva à reportagem da Tribuna, que sofreu tentativas de suborno entre colegas do legislativo na tentativa de evitar a vitória da oposição na Casa. Ele ainda aponta falhas na gestão Bongiorno (PMDB), e diz que legislatura anterior maquiava a transparência da Câmara. A entrevista, que foi gravada e acompanhada de assessores e eleitores, aconteceu na quinta-feira (5), no plenário da Câmara.

Tribuna de Cianorte: Presidente, quais serão as primeiras atitudes do senhor frente à Câmara Municipal?

Dirceu Manfrinato: Estou fazendo uma reunião com o pessoal da área burocrática, ouvindo, me inteirando da situação do Poder Legislativo; procurando uma interação da presidência e os funcionários, para que desempenhamos um papel a contento da população e dos senhores vereadores e vereadoras.

TC: Foi realizado um balanço do que foi deixado pela antiga mesa diretora?

DM: Nós pedimos para serem tomadas as medidas necessárias. Estou no aguardo do levantamento que pedi, para depois de concretizado, a gente poder divulgar.

TC: É a primeira vez, em quatro anos, que a oposição assume a presidência da Câmara. Frente a atual circunstância, qual será a relação da mesa diretora com o Poder Executivo?

DM: A relação será amistosa. A única coisa que queremos é que o Poder Legislativo tenha sua legitimidade. É um poder independente, não pode ficar atrelado ao Executivo. A função nossa [vereadores] é discutir os projetos. Agora não podemos ficar na dependência dos fatores impostos pelo Executivo porque isso cria um vício que acaba influenciando os vereadores e, depois, quando chegam projetos que desfavorecem a população, acabam não sendo se quer estudados.

TC: O senhor tem algum projeto que será prioridade para este início de ano?

DM: Vamos lapidar algumas situações que precisam ser resolvidas. Também queremos reunir os vereadores, pois não quero uma gestão individualista da bancada da oposição, pois acho importante também a interação com os vereadores da situação nas tomadas de decisão da Câmara, e consequentemente, nas prioridades.

TC: Na coletiva de imprensa desta semana, o senhor falou muito em mudanças. A partir deste discurso, o que a população pode esperar da sua gestão e quais mudanças seriam essas?

DM: Nós vamos trabalhar em cima da transparência, aqui nada ficará encoberto. Todos os atos que tomarmos dentro da Câmara será encaminhado à imprensa para ser divulgado. Desde o primeiro dia que assumi, já comunique aos assessores da Câmara de que a nossa postura é de respeito e honestidade. Haverá muitas mudanças, no entanto, neste momento não posso antecipar porque estamos trabalhando em cima disso.

TC: Presidente, é interessante o senhor citar o assunto transparência, até porque é perceptível que existe muita dificuldade de acesso às informações do Poder Legislativo Municipal. O próprio site da Câmara, por exemplo, não permite ao público conhecer os valores pagos em diárias dos vereadores e tampouco salários. Isto será revisto?

DM: Estou tomando pé da situação neste momento, como disse anteriormente. Nós já vamos ver os parâmetros e colocar na transparência. Tais informações são primordiais para a população e com certeza devem ser divulgadas. Isto é o mínimo de qualquer poder público.

TC: Existe a previsão de novos cortes no funcionalismo da Casa?

DM: Não existe, porque são concursados e não tenho como mexer. A princípio, na reunião anterior que fiz, tive uma impressão de que todos são competentes e comprometidos. São pessoas que já estão inseridas no Poder Legislativo, conhecem o funcionamento da Casa. Não justificaria cortar novos cargos, bem como não há previsão de novas contratações.

TC: Um dos assuntos que tem chamado atenção da população cianortense, e que inclusive gerou muito repercussão, é o projeto contra o nepotismo nos poderes municipais; ele não chegou sequer entrar em votação, e estacionou nas comissões. Na sua gestão, ele será reapresentado?

DM: Todos os vereadores têm autonomia para fazer isso [reapresenta-lo], e, caso seja, nosso voto será contrário [ao nepotismo]. Não podemos aceitar isto.

TC: Outro assunto que também chama atenção da população é a proposta de uma nova construção da sede da Câmara de Vereadores. O senhor pretende tocar adiante esta iniciativa?

DM: No próximo ano, nós vamos embutir sim o valor de 7% do orçamento na construção da nova sede da Câmara. Estamos instalados em um prédio emprestado, pois esta estrutura pertence à União. Então, não há lógica investir em um imóvel que não seja do Poder Legislativo Municipal, pois não se sabe até quando ficará à nossa disposição. Amanhã ou depois, a União determina a desocupação, e o que faremos o dinheiro investido?

TC: Na eleição anterior, a Câmara passou por uma pequena renovação, e o senhor é um dos novos nomes que ocupam a Legislatura até 2020. O que o fez lançar candidatura e, acima de tudo, buscar a presidência da Casa?

DM: Você deve ter notado que sai candidato de última hora. Eu não estava interessado em lançar candidatura, mas muitos amigos pediram para que eu voltasse à política local. Com a eleição, coincidiu ainda que meu nome foi cogitado por alguns vereadores para a disputa da presidência da Casa. Tive a solidariedade de quatro vereadores, Márcia Fernandes, Natal Reis, João Alexandre e o Vitor Hugo Davanço, meu afilhado. Tentaram de todas as formas fazer com que eles não votassem em mim, oferecendo até vantagens pessoais. Não aceitaram, porque sabem que meus princípios e ideias se comungam com os deles. É por isso que cheguei à presidência da Câmara. Cheguei com honra, disputei contra a situação do Poder Executivo, contra o deputado local, e ganhamos as eleições legislativas. Considero isso um retorno político com duas vitórias importantes: ser eleito e chegar à presidência com a máquina a meu desfavor, na tentativa de me destruir.

TC: Com essa revelação de que tentaram impedir a vitória do presidente na Câmara, o senhor acredita que esta atitude de frear o seu mandato se prolongue por este biênio?

DM: Não acredito [risos]. Até porque não tem nada contra mim, e não farei, muito menos faria algo de errado. Não vejo razão alguma. Nunca tive uma denúncia. Mas todos nós sabemos que política é como uma nuvem, ela se desmancha em questão de segundos. Sobretudo, minha conduta, minha postura, não se desmancha.

TC: Presidente, o senhor falou muito sobre transparência e citou, entre outros assuntos, a perda da legitimidade do Poder Legislativo Municipal nos últimos anos. O que fazer para o retorno de tal legitimidade? E como o senhor avalia a atual gestão municipal?

DM: Na verdade, há muito que se fazer em Cianorte. Eu vejo que a nossa cidade, ao contrário de algumas outras, em nada evoluiu, pelo contrário, retrocedeu. Vejo isso ao caminhar pelas ruas da cidade. Nós não estamos crescendo, mas sim regredindo. Quando você passa por diversas regiões de Cianorte, o que mais se vê são placas de vende-se e aluga-se. Isto é um sintoma de que nossa população tem ido buscar oportunidades fora daqui. Se não tomarmos uma providência imediata, correr atrás de investimentos de fora, que na minha opinião é o  mínimo que se espera de um secretário de Indústria e Comércio e não ficar enfiado em um gabinete, a cidade não vai gerar empregos. Em Cianorte não existe, pelo menos desconheço, uma política de incentivo fiscal para novas empresas. Hoje, na Prefeitura, existem mais de 350 pedidos feitos por micro e pequenas empresas engavetados. Como se quer o desenvolvimento de uma cidade nestas condições? Não tem a mínima condição. Cianorte não dá incentivo, por isso temos que trabalhar em cima deste aspecto e cobrar isto do Poder Executivo. Só assim vamos resgatar a credibilidade da Câmara e contribuir para o desenvolvimento municipal.

TC: Por fim, presidente, gostaríamos que o senhor deixasse uma mensagem para a população e o que os cianortenses podem esperar do senhor, não como presidente da Câmara, mas sim como representante do povo, como vereador?

DM: Eu afirmo o seguinte: pelas ruas que ando sinto ao conversar com as pessoas o peso da responsabilidade que assumi. Sou grato, pois há uma credibilidade em meu nome tão forte, de que nem eu mesmo esperava. Hoje, grande parte da população de Cianorte acredita no meu trabalho e eu vou ter que honrar isto, cumprindo meu mandato com legitimidade, respeito e seriedade. É isto que iremos fazer.