UEM de Cianorte gradua a primeira aluna transexual

Maia Cardoso entra para a história do campus na cidade, abrindo as portas para os futuros transex

Weslle Montanher
“Hoje, sou uma mulher feliz”, Maia Cardoso

Na semana passada, a Universidade Estadual de Maringá (UEM) graduou com o nome social, pela primeira vez, duas alunas transexuais de Maringá. Apesar de a notícia parecer inédita, todos os anos diversas alunas e alunos transexuais concluem a graduação em várias universidades no país, mas nem todos conseguem o diploma com o nome social.

O fato que se tornou histórico na sede da UEM repercutiu em Cianorte, onde também houve a formação da primeira aluna transexual desde a abertura do campus na cidade. Apesar de não conseguir receber o diploma com o nome social, Maia Cardoso, 21 anos, formada em Design de Produto, entra para a história da educação local, abrindo portas para futuras e futuros ‘transex’.

Em conversa com a reportagem da Tribuna, Maia defendeu os direitos dos jovens transexuais e disse que ainda são necessários muitos avanços. Fico muito feliz em me formar como mulher, sendo travesti e estando na universidade. E espero que muitas outras também possam, até que isso deixe de ser algo incomum, até que todas possam estudar e ter oportunidades. O fato de eu estar na universidade não me faz diferente daquelas que a sociedade marginaliza. Eu tive oportunidades e sou muito grata aos meus pais por isso. Torço para que todas e todos tenham.

A ACEITAÇÃO

Segura, e bastante aberta a falar sobre a aceitação, a jovem relatou as dificuldades e opressões do que ela chamou de ‘descoberta’. Para Maia, aceitar-se mulher em um corpo masculino significou três estágios: libertação, sinceridade, e finalmente, viver. Se descobrir como uma pessoa transexual é bastante confuso, já que a gente nunca ouve falar sobre. Em um dado momento eu me vi sem saída. Quando eu estava terminando a faculdade já não aguentava mais viver como antes. Não tinha mais o que temer. Eu sabia que seria difícil, mas também sabia que não ficaria só. Ou pelo menos esperava não ficar, admitiu.

FAMÍLIA

 

Arquivo Pessoal
Maia e a mãe: “apoio da família é essencial’

Apaixonada pela família, Maia representa atualmente não apenas um avanço no ensino superior, em termos de igualdade de gênero, mas um exemplo da diferença que o apoio familiar pode fazer nas decisões e na própria aceitação. Ela não negou que no primeiro ato houve resistência por parte da mãe, mas que, com o diálogo, houve a compreensão e o que ela definiu como felicidade plena.

 

Primeiramente o maior apoio que tive veio através de amigos. Recebi e ainda recebo, diariamente, mensagens de apoio, e isso ajuda muito. Mas o mais importante era o apoio da minha mãe. Eu tive muito medo da reação dela. No começo ela não entendia, não aceitava ou talvez não compreendia. Mas hoje ela é melhor do que jamais poderia ser. E eu penso que se foi difícil e demorado para mim, imagine para ela. Infelizmente o meu pai faleceu enquanto eu ainda estava na universidade, mas também gostaria de ter o apoio dele, e que ele pudesse ver como eu estou feliz, revelou.

RECADO

Para finalizar, Maia deixou um recado para aqueles que desejam ser como ela, mas que ainda não têm coragem: Eu nunca vou dizer que é fácil ser uma pessoa ‘trans’ hoje em dia, mas há uma luz no fim do túnel sim. Eu espero que estejam todos cientes de que a culpa dessa dificuldade não é nossa, já que o preconceito está sempre nos outros, portanto, durmo todos os dias com a consciência tranquila. E também sei que por mais difícil que possa ser, o melhor caminho que podemos tomar é o de ser nós mesmos.