Você conhece Amândio Mathias?

No próximo dia 26 Cianorte completa 62 anos de existência, e pensando nisso, a Tribuna traz neste mês uma série de reportagens especiais sobre personalidades que foram homenageadas com nomes em logradouros públicos. O primeiro personagem não poderia ser melhor: Amândio Mathias. Ele foi jornalista e fundou a Tribuna de Cianorte, em 1965. Hoje, a praça que abriga o Centro de Educação Infantil Criança Feliz, na Vila Operária, leva o nome dele, porém, com o passar do tempo, no local não há resquícios da homenagem. Por isso vamos resgatar essa história.

Amândio Mathias foi um dos pioneiros da imprensa local. Natural de Antonia, no litoral do estado, em 1955 ele se mudou de Apucarana para Cianorte, onde fundou o primeiro veículo impresso de informação da cidade, O Espinho. Foi também secretário e contador da Prefeitura de Cianorte durante gestão do primeiro prefeito da cidade, Wilson Ferreira Varella. O livro Caminhos da História, escrito pela historiadora Izaura Aparecida Tomarolli Varella, resume bem a vida do jornalista. Em um trecho, ela o descreve. (…) Ele tinha o espírito sarcástico, crítico e era um homem generoso, culto, inteligente e preparado, além de ser um ‘bom vivant’, divertido, que gostava de caçar, pescar e ficar na roda de amigos. Foi uma figura folclórica na cidade (…).

Mathias acompanhou a fundação do Cianorte Clube e sempre participava de atividades esportivas e sociais, inclusive foi presidente do C.A.F.E – Cianorte Associação Física e Educativa. O Amândio sempre foi um ícone para a imprensa regional. E hoje, sem dúvida a Tribuna de Cianorte é uma dos grandes legados que ele deixou, sendo o veículo de comunicação impresso mais antigo da cidade, comentou o atual dono do jornal, o empresário Jedaías Pereira Belga.

Entretanto, nem tudo foram flores. A morte de Amândio não poderia ser mais trágica. Ele foi assassinado em agosto de 1977, conforme relata o jornalista Paulo Antonio Tertulino, que na época era um dos meninos do Amândio Mathias. Era assim que eu e os demais funcionários do Amândio, como o paginador Reinaldo Soares Junior, conhecido como Jaraguá e o linotipista Nelson Pereira, éramos conhecidos. Comecei trabalhar na Tribuna oficialmente em 1976, mas antes já colaborava com crônicas e poesias na Página Estudantil, relembra Tertulino, com ar saudosista.

Ele conta que foi testemunha ocular do crime que vitimou Mathias. O Amândio tinha uma coluna chamada Pingos & Pingas. Nela ele descia o porrete em tudo o que julgava de errado. Assim muita gente comprova o jornal no domingo só para ver sobre o que o Amândio ia falar. No domingo anterior à sua morte, ele colocou uma nota dizendo que tinha um sujeito aplicando golpes na cidade. No dia do crime – uma quinta-feira pela manhã – este cidadão esteve em uma barbearia localizada na Rua 15 de Novembro quase em frente onde se localiza a Funerária Perpétuo Socorro. Pediu que caprichasse na sua barba, pois ele iria matar um jornalista. Ninguém acreditou, pois do lado da tal barbearia ficava a delegacia de polícia. Dito e feito., conta Tertulino.

O homicídio aconteceu no posto de combustível localizado na saída de Cianorte para Maringá, destino de Mathias naquele dia. Ele ia toda semana para a cidade vizinha fazer os clichês da edição de domingo. Antes, como de costume, pararam no Posto Rodovia para abastecer. Eis que parou um carro do lado. Um homem e uma mulher loira. Ele desceu e perguntou se aquele era o Amândio. Na resposta positiva descarregou um revólver calibre 32. Ele não teve a menor chance de defesa, descreveu o jornalista.

Amândio Mathias virou nome de praça no ano de 1981. Ele deixou dois filhos, Ubirajara Mathias, que foi piloto da Força Aérea Brasileira e Ubiracy Mathias, pedagoga. A esposa dele, Gedelsete Souza Mathias, conhecida como Leda, continuou com o jornal por mais alguns anos e depois foi trocando de dono, até chegar ao atual, Jedaías Pereira Belga.

 

AGRADECIMENTO:

Nesta reportagem a Tribuna deixa um agradecimento especial pela colaboração do jornalista Paulo Antonio Tertulino e da historiadora Izaura Varella, que dispuseram de tempo e dedicação para nos contar um pouco da história de Cianorte e da Tribuna, que completa 50 anos de existência em setembro deste ano. Agradecemos em especial à dona Izaura, que disponibilizou seu acervo de imagens para a elaboração dessa matéria. A eles, nosso muito obrigado!