Técnica barata e inteligente reduz em 60% a aplicação de agrotóxicos

Monitoramento da lavoura faz parte da campanha Plante Seu Futuro, da Emater

Arquivo / Emater
Coletor de esporos é utilizado para controlar presença de fungos no ar

Uma solução simples tem levado para as lavouras da região médio noroeste um cultivo mais sustentável e inteligente, evitando agredir o meio ambiente e reduzindo os custos de produção. É o Manejo Integrado de Pragas e Doenças (MIP e MID). Uma técnica aplicada desde 2012 pela Emater que tem diminuído em 60% a aplicação de agrotóxicos no campo.

A lição é básica: se trata do controle das pragas por meio do monitoramento da cultura.  No Núcleo Regional da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab), de Cianorte, o trabalho é desenvolvido em cinco propriedades, chamadas de Unidades de Referência (UR’s). Por lá, os produtores, com apoio dos extensionistas do órgão, visitam a lavoura semanalmente, onde colhem amostras do avanço de pragas e doenças na cultura.

O técnico da Emater de Jussara, Bernardo Faccin, explica que com as visitas, o produtor consegue ter a certeza da real necessidade de aplicação de inseticidas e defensivos. Para cada tipo de inseto ou fungo existe uma medição adequada. No caso do percevejo na soja, por exemplo, só é aplicado o agrotóxico se for encontrado mais de dois insetos por metro quadrado de linha.

Alguns defensivos são tão agressivos que matam até mesmo os inimigos naturais das pragas, o que é não bom, pois rompe o clico natural de controle e pode tornar a lavoura ainda mais vulnerável, destaca o técnico.

Resultados eficientes

As vantagens do MIP e do MID refletem nos números da última safra de soja apresentados pela Emater. Segundo o órgão, enquanto nas propriedades onde não há o manejo integrado, a primeira aplicação aconteceu com 20 dias do plantio e foram necessários 4,4 pulverizações. Já nas lavouras monitoradas, o uso dos agrotóxicos caiu para 2,2, sendo a primeira após 61 dias.

Exemplo na prática

Arquivo / Emater
Produtor monitora lavoura, em Jussara

Nas áreas cultivadas pelo agricultor Jaime Mantovani, o exemplo é claro dos benefícios oferecidos pelo manejo integrado. Eu fazia as aplicações de veneno para pragas sempre que eu visse os primeiros insetos na lavoura. Toda vez que fazia uma aplicação de herbicida ou fungicida, tendo ou não pragas, eu usava um pouco de inseticida junto. Só para controlar pragas, era em média sete aplicações em uma safra.  No caso das doenças eu aplicava de acordo as fases da lavoura, sem verificar se elas estavam ocorrendo de fato conta.

Depois de adotar o manejo integrado, ele diz está mais seletivo na compra dos defensivos, uma vez que o uso reduziu pela metade, ou mais. Na última safra, por exemplo,  ele revela que foi necessária apenas uma aplicação em todo o processo de desenvolvimento da lavoura; do plantio à colheita. Um feito histórico.  O pior erro do agricultor é pensar que a lavoura tem de ficar sem nenhuma praga. Muito pelo contrário, é preciso aprender a conviver com elas enquanto não estão causando danos à produtividade, seguir o fluxo natural de controle.

Aumento de inseticidas no campo preocupa Emater

Levantamento da última safra realizado pelo Estado informa que o total de aplicações foi de 4,6 entradas para o controle de pragas

Nelson Harger, engenheiro agrônomo e coordenador do Projeto Grãos, da Emater, traduz a eficácia do projeto como uma necessidade do cultivo consciente. Ele diz que o Paraná está retomando os trabalhos em MIP e MID, com uma campanha estadual chamada Plante seu Futuro; estimulando assim as iniciativas de boas práticas agrícolas no campo.

Segundo Harger, foi observado na última safra o controle natural pela ação dos insetos benéficos sem a necessidade do uso de agrotóxicos. Outra grande preocupação é com relação ao aumento anual do uso de inseticidas no combate às pragas.

Levantamento da safra 2015/16 realizado pela Emater mostra que o total de aplicações foi de 4,6 entradas para o controle de pragas. Chama atenção a média estadual; um total de 5,8 inseticidas diferentes, ou seja, está ocorrendo com bastante frequência a mistura de dois ou mais inseticidas no mesmo tanque do pulverizador o que, na avaliação dele, é um grande problema.

Com o MIP, estamos mudando nossa forma de pensar. Ao invés de fazer o controle preventivo, muitas vezes desnecessário, podemos optar pelo controle no momento certo, sem perdas de produtividade e com menos custos das lavouras, conclui Harger.

Para ter mais informações sobre as técnicas do manejo integrado de pragas e doenças, a orientação é que os produtores procurem o escritório da Emater mais próximo, a assistência é gratuita e um direito de todo agricultor.