Empresa é acusada por Gaeco de vender oxigênio hospitalar adulterado em Cianorte

Três pessoas responsáveis pela empresa acusada de fraudar cilindros de oxigênio hospitalar em Cianorte foram detidas nesta segunda-feira (30), por volta das 7h30, durante a ‘Operação Cilindros’, deflagrada na cidade e em outros 34 municípios do estado. Os detidos foram encaminhados à 21ª Subdivisão Policial (SDP) de Cianorte, onde prestaram depoimento e depois foram liberados. De acordo com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), em Cianorte foi apreendido um lote completo de cilindros suspeito de adulteração, mas apenas uma parte ‘simbólica’ foi levada à delegacia.

As investigações da mega operação, desenvolvida pelo Gaeco de Maringá, tiveram início em maio deste ano após uma série de denúncias e provas recolhidas junto ao Ministério Público.

O objetivo da ação é desmantelar um esquema de fraudes e adulteração de cilindros de oxigênio medicinal – utilizado em pacientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Além de Cianorte, a ação também cumpriu mandados de busca, prisão e apreensão em diversas cidades do Noroeste, incluindo as regionais de Campo Mourão, Maringá e Umuarama. Ao todo são 56 suspeitos de envolvimentos no esquema.

 

Adulterações

As investigações apontam ainda que essas empresas também adulteravam os cilindros, lacres, datas de validade e de inspeção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ainda de acordo com o Gaeco, centenas de hospitais eram abastecidos por esses cilindros de gás adulterados. Há indícios de corrupção e fraude em licitações para a compra desses produtos, além do envolvimento de servidores públicos, conforme o Gaeco. Entre os outros crimes investigados estão formação de quadrilha, falsificação e sonegação e crime contra a saúde pública.

 

Weslle Montanher/Tribuna de Cianorte
De acordo com o Gaeco, material levado à 21ª SDP é um volume simbólico ao que foi apreendido na empresa

Cianorte

Entre os crimes da qual a empresa de Cianorte tem sido acusada estão fraudes da composição do produto, como transvaze –  quando o produto é transferido para outro cilindro em menor quantidade. O Gaeco constatou também que as empresas denunciadas repintavam cilindros industriais (cor preta) e revendiam como de uso medicinal (cor verde).

Outras fraudes flagradas estão relacionadas à adulteração do lacre de inspeção e data de validade do produto. O alvo da Operação Cilindros são empresas distribuidoras do produto, hospitais e órgãos municipais. Somente na

região, são 10 empresas estão sob investigação.

O promotor responsável pela ação, Laércio Januário de Almeida, disse que a empresa acusada da adulteração teve que assinar um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para garantir a substituição dos cilindros de oxigênios fornecidos na cidade. A própria empresa aceitou substituir os cilindros suspeitos de adulteração pelos com garantia de procedência. Caso não cumpram o TAC, a empresa está sujeita a multa de R$ 2 mil e irá responder dobrado pelo crime, disse o promotor à reportagem da Tribuna. Segundo ele, as investigações irão continuar nos próximos dias e os locais que receberam esses oxigênios serão visitados pelo Gaeco.

A Tribuna entrou em contato com a empresa acusada da fraude em Cianorte, porém não obteve resposta até o fechamento da edição.

Risco de morte

Ainda conforme o promotor, essa utilização coloca em risco os pacientes, já que os cilindros industriais não possuem a proteção devida para armazenar o oxigênio.

“O cilindro verde tem um sistema de produção para compor o oxigênio hospitalar, que é um oxigênio com maior grau de pureza. Já o cilindro preto serve para distinguir o cilindro industrial, que não é com uma maior tecnologia, uma camada de proteção. Há o risco de que, nesses cilindros, tenham resíduos que não pode ter no oxigênio hospitalar. O grau de pureza do oxigênio hospitalar é muito melhor. Aqui está se fazendo o verdadeiro gato por lebre”, comentou.

De acordo com o diretor médico do Hospital Santa Rita de Maringá, Jair Biato, a adulteração nos cilindros de oxigênio pode causar graves problemas para os pacientes.

Quando o paciente chega descompensado na parte respiratória, eu ofereço o oxigênio como tratamento. Se o oxigênio tem uma qualidade ruim, é como se estivesse oferecendo um antibiótico ruim. Quanto maior a gravidade do doente, maior é a dependência do oxigênio, e mais problema esse doente pode ter. Eu posso ter repercussão no cérebro, no rim, no pulmão, onde todos esses órgãos vão utilizar oxigênio. Isso pode acarretar no óbito de alguns pacientes, explica o médico.

Onde ocorre

Foram cumpridos mandados em Campo Mourão, Cianorte, Maringá, Umuarama, Jussara, São Tomé, Doutor Camargo, Barbosa Ferraz, Corumbataí do Sul, Goioerê, Grandes Rios, Cruzeiro do Oeste, Mariluz, Altônia, Iporã, Terra Roxa, Guaíra, Iretama, Roncador, Pitanga, Santa Maria do Oeste, Terra Boa, Janiópolis, Luiziana, Engenheiro Beltrão,  Quinta do Sol, Fênix, Floresta, Nova Esperança, Presidente Castelo Branco, Atalia, Santa Fé, Colorado, Sarandi e Itambé. De acordo com o Gaeco, a base das investigações está centralizada em Campo Mourão, Cianorte e Maringá. (Com informações do Portal G1 e Assessoria de Imprensa do Gaeco)